Fugas - Viagens

Luís Maio

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Trieste, a cidade-encruzilhada

Trieste é também uma cidade de museus em número (meia centena) e variedade, algo surpreendentes para uma população de 200 mil habitantes. Tem de novo a ver com a espantosa história da cidade e as fortunas que pelo caminho produziu. A maior parte são museus da memória, que documentam desde os achados arqueológicos do período romano ao património militar da cidade, passando pelo antigo campo de concentração de La Risiera di San Sabba. Em termos de arte, a instituição de maior prestígio é o Museu fundado pelo Barão Revoltella (1795-1869), magnata enriquecido com a abertura do Canal do Suez. Revoltella começou por fazer da sua casa um museu e deixou uma herança destinada a ampliar a colecção, depois enriquecida com obras dos principais artistas italianos dos séculos XIX e XX. Entretanto, o museu expandiu-se por mais dois palácios na vizinhança, sofreu um amplo programa de reestruturação em 1991 e é hoje um dos principais espaços de exposição de arte moderna e contemporânea em Itália.

Miramare "on the rocks"

A fachada marítima de Trieste é tão encantadora que quem a visita tem tendência a não descolar para o interior. Convém, porém, quebrar esse feitiço, quando as alturas da cidade oferecem outro género de magia. Trieste é uma cidade à beira-mar, mas também rodeada pelas montanhas do Planalto Cársico, que atingem 450 metros de altitude, antes de se lançarem abruptamente no mar. Uma maneira, talvez a melhor maneira de lá chegar seja o Tram de Opicina, que desde 1902 liga a Piazza Oberdan, a norte da baixa de Trieste, com a Villa Opicina, já nas alturas do planalto.

A linha começa por atravessar bairros de prédios residenciais, depois de vivendas tanto mais faustosas quanto mais se sobe, até que o pitoresco eléctrico de duas carruagens encontra um troço íngreme, em que deve socorrer-se de cabos para impulsionar a subida, tal como um teleférico. A paragem seguinte é um fantástico belverde sobre a baía de Trieste, enquanto daí para cima as casas acabam e começa a floresta mediterrânica. O trajecto até Villa Opicina dura perto de meia hora e vale tanto pelas vistas panorâmicas, como pelo contacto com o quotidiano dos triestinos, que se vão acotovelando nas duas velhas carruagens de madeira forradas a chapa.

Excursão mais usual é o Castelo Miramare, a maior atracção turística da cidade (meio milhão de turistas ao ano). A sua fotogenia é indiscutível, resultando da situação estratégica, na ponta de um promontório isolado sobre o mar, aliada a uma arquitectura ecléctica que não é destituída de semelhanças com a dos palacetes de Cascais. Já o recheio se apura menos cativante, mas é largamente compensado pela história trágica dos seus primeiros proprietários, Maximilien de Habsburgo, fuzilado no México em 1867, e a sua esposa Charlotte da Bélgica, enlouquecida depois disso. Mais ou menos romanceada, a tragédia de Miramare é uma dessas histórias que fazem sonhar Trieste.

Como ir

A TAP voa todos os dias para Veneza, a partir de 79€. Os voos duram cerca de três horas e saem de cá às 8h00 à 3.ª,4.ª e 6.ª e sábado e às 13h20 à 2.ª, 5.ª e domingo, descolando de lá cerca de uma hora depois. Veneza-Trieste faz-se em comboio por 15€, em perto de duas horas.

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