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Seja como for, o meu novo empregador estava legitimamente orgulhoso do seu terminal e compreensivelmente desejoso de encontrar maneiras de cantar a sua beleza. A estrutura ondulada em vidro e aço era o maior edifício do país, com 40 metros de altura e 400 de comprimento, o que equivale a quatro campos de futebol; no entanto, o edifício na sua globalidade dá uma sensação de leveza, como uma mente inteligente aplicada sem esforço na solução de um problema complexo. Ao anoitecer, o cintilar das suas luzes vermelhas pode ser visto do Castelo de Windsor, com as linhas do terminal a darem forma às promessas da modernidade.
Quando observamos objectos caríssimos de beleza tecnológica, podemos sentir-nos tentados a resistir ao assombro, não vá ficarmos estúpidos de admiração. Podemos sentir que corremos o risco de nos deixar cair num excesso de reverência pela arquitectura e engenharia, de ficarmos embasbacados perante os comboios Bombardier que correm sem condutor entre satélites do aeroporto, ou face aos motores General Electric GE90, como que apenas pendurados ao de leve nas asas de um Boeing 777 com destino a Seul.
No entanto, recusarmos em absoluto deixarmo-nos maravilhar pode ser, no fundo, apenas outro tipo de tolice. Num mundo cheio de caos e irregularidade, o terminal parece-me um refúgio de elegância e lógica, valioso e intrigante. É o centro imaginativo da cultura contemporânea. Se nos pedissem para levarmos um marciano a visitar um único lugar que capturasse claramente a totalidade dos temas que permeiam a nossa civilização - desde a nossa fé na tecnologia até à nossa destruição da natureza, desde a nossa interligação até ao nosso romantismo em relação ao viajar -, teríamos de o levar às áreas das partidas e das chegadas de um aeroporto. Esgotei todas as razões para não aceitar a invulgar oferta do aeroporto de passar algum tempo nas suas instalações.
Uma Semana no Aeroporto - Um Diário de Heathrow
[A Week at the Airport]
De Alain de Botton
(tradução de Manuel Cabral)
Fotografias de Richard Baker
146 páginas. Custa cerca de 10€ nas livrarias.
Edição: Dom Quixote
Site do autor: Alain de Botton