Atravessa-se o areal por entre dois bares de apoio e guarda-sóis e toalhas que vão mesmo quase até à borda da água: entra-se só a molhar os pés e ainda se anda assim alguns metros, o chão branco a brilhar. Viviana Costa está aí, ainda de calções e t-shirt, acabada de chegar à praia e vinda directa à água com Bia, 18 meses, ao colo. "Vamos ver como ela se porta", diz, "já esteve na Figueira e não gostou da água nem da areia". A irmã, de 15 anos, já está lá mais à frente, na parte em que a água se torna quase turquesa pela profundidade; Bia faz força para ir para o chão e parece que gosta desta água, os pais foram buscar os guarda-sóis e restante parafernália. "Como não sabíamos o que íamos encontrar, deixámos tudo no carro". O que Viviana encontrou é "mais pequeno e mais sossegado do que uma praia", avalia. "É mais parecido com uma piscina com areia". "Mas é bonito", considera, "e como não há praia aqui é uma coisa boa". Mas "é um bocadinho longe e caro" para vir de Penacova - hoje é ocasião especial, o aniversário do pai, que até calhou num feriado.
Por ser feriado, os dois irmãos e respectivas mulheres vieram da Covilhã. Duas horas de caminho, "nas calmas". "Por curiosidade", conta Alcina Conceição. Estão todos vestidos (quem está de calças fez bermudas, as camisas foram abertas) em cima de uma toalha e uma manta ("andam sempre no carro"), que estenderam junto à vedação que divide o areal do relvado da zona VIP (edifício que fará as vezes de discoteca - ou vice-versa - e que tem do lado oposto do relvado um palco gigantesco). Só vieram conhecer, daí ausência de fatos de banho - mas já molharam os pés. "A água é um bocadinho salgada, não é?"
"Aquilo não é o mar"
São 10 gramas de sal por litro (pode aumentar para 15 gramas) que não convencem. "Vamos antes à Figueira ou ficamos na piscina da Covilhã", diz Vergílio Conceição, "só não tem areia, tem relva". "Isto é mais para quem vive aqui perto", considera a cunhada, Anabela Castanheira. Um protesto: os cartões de consumo (não circula dinheiro na praia, só cartões recarregáveis com múltiplos de cinco). "Tem de gastar-se no mínimo cinco euros. Está muito mal."
Mesmo ao lado, Maria Otália e o marido, José Carvalho, estão instalados numa das camas de aluguer. Ele ainda está vestido, ela, de biquini, já vem da água ("a piscina escorrega na parte mais baixa", informa). "Importa-se que me deite? Tenho de usufruir dos 20 euros", diz. Esse é o preço do aluguer da cama, em dossel com colchão laranja e dois almofadões negros, que vem com serviço próprio. "É carito", avalia, mas o marido não gosta de sol. Não vão voltar. "Isto é bom para quem tem crianças", afirma Maria Otália, "o que não é o meu caso".
Bem longe da água e longe da multidão que não pára de aumentar, estão Olga Simão, 33 anos, a mãe, Maria Silveira, 55 anos, e a filha, Mariana, prestes a completar um ano e pela primeira vez na praia. Por isso, permanece debaixo do guarda-sol à beira das geleiras com o almoço, enquanto o irmão, André, oito anos, chega, molhado, para buscar a bola, que vai jogar com o pai e o tio - "Aquilo não é o mar", dispara à laia de queixume. "Ele está habituado ao mar", explica a mãe, "isto é mais piscina. Mas para nós é mais descansado, porque tem sempre pé e água morna". "Só faltam umas ondas", diz Olga. "E mais profundidade", acrescenta Maria Silveira, "o meu filho queixa-se que quer nadar e dá logo com os pés no fundo".