Os canhões apontados ao orgulho do sultanato tinham uma razão de ser: os ingleses reclamavam por um sultão que desse mais garantias de obediências a sua majestade, "the queen", pelo que o sultão da época, o sucessor de Bargash, deveria abdicar.
Reconstruído, o Beit el-Ajaib, que antes tinha sido local de cerimónias oficiais, passou a ser residência oficial. Há quem sustente que as suas enormes portas de madeira trabalhada são as maiores do género na costa oriental africana. É neste palácio que se pode bisbilhotar a mala de cuidados de saúde com que Livingstone, cirugião de formação, católico convicto e explorador nato, viajou por África, onde deixou o coração, apesar de o corpo repousar em Westminster.
Outros palácios como Beit al-Sahel, o velho forte (construído onde os portugueses tinham edificado antes uma capela), a catedral anglicana, o antigo mercado de escravos ou a católica St Joseph's Cathedral, são igualmente motivos de interesse histórico. Mas não há como ignorar que esta também é uma cidade de mesquitas e de templos hindus, de música tradicional como o taarab (mais uma combinação exótica entre sons africanos, árabes e indianos) e de uma vida nocturna agitada, onde não faltam os concertos ao vivo.
Os "dhows"
Mas não foi propriamente devido a Stone Town que Zanzibar ficou conhecida como o jardim dos trópicos. E muito menos a Freddie Mercury, que aqui nasceu.
As suas praias fantásticas são um deleite incomparável. O cenário de um fim de tarde numa praia de Nungwi, uma das principais concentrações de "resorts" e hotéis (existem para diferentes recatos, gostos e exuberâncias financeiras), deixa pegadas indeléveis na memória. Os "dhows", embarcações de vela triangular tão característicos da costa suaíli, navegam às dezenas, numa patinagem artística e silenciosa no mar, enquanto o "muezzin" chama para as orações.
Os "dhows" regressam sincronizados nos fins de tarde com o peixe do jantar, pela certa um "king fish". Nungwi continua a ser um importante estaleiro deste tipo de embarcações e tem uma forte tradição piscatória.
Tradicionalmente, os "dhows" viajavam ao longo da costa oriental e são eles os responsáveis por esta mistura de bantus imigrados do interior do continente com indianos e árabes chegados para comerciar e prosperar. Os "dhows" desciam com a generosidade dos ventos kakazi entre Novembro e Abril e subiam com os ventos kuzi entre Maio e Outubro.
Graças aos "dhows", mas não só, ainda há muito de autêntico em Nungwi, pelo que se exige não só respeito pelas condições ambientais, uma vez que a zona é procurada por algumas espécies animais, como as tartarugas, como com a interacção com as populações, de pescadores, sobretudo. O turismo é muitas vezes um predador sem escrúpulos e sem memória, que contribui para arrasar a diferença em nome de um preconceito tonto e de uma altivez absurda num mundo que erradamente se pretende mais igual.
Mas não foi isto que em muito contaminou as relações entre europeus e africanos? Nungwi não é a única praia, obviamente. Kendwa, Matemwe, Uroa, Chwaka ou Kiwengwa são outros locais com praias mais do que recomendáveis. Em algumas delas pode encontrar "resorts" italianos e pequenos grupos de turistas europeus, pois os norte-americanos e ingleses abandonaram Zanzibar depois dos atentados às embaixadas dos EUA em Dar es Salam e Nairobi.