Fugas - Viagens

  • Miguel Manso
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Brejeira, seis hectares para campismo gourmet

São pessoas que sabem exactamente ao que vêm e não estão apenas interessadas numa nova experiência. "Vêm porque querem estar mais perto da natureza, em silêncio. Querem dar passeios a pé, ir à praia ou ficar a ler."

A maioria dos vizinhos da Brejeira são agricultores entre os 70 e os 80 anos que cumprimentam à passagem. Habituaram-se a ver turistas por ali e até dão indicações. Se não está muito calor, Claire e Sander encorajam os hóspedes a fazer caminhadas e até se disponibilizam para os ir buscar de carro no fim do percurso. Se as temperaturas sobem, mandam-nos para a Costa Vicentina, para as praias da Arrifana, do Amado ou da Carrapateira, ideais para surfistas e body borders.

Silves, ali mesmo ao pé, é um bom destino para quem anda à procura de património - foi um importante centro islâmico da Península Ibérica -, mas, para os que não se querem limitar ao castelo, é preciso evitar os domingos: o museu está fechado, assim como muitos dos monumentos da cidade. Até o posto de turismo da cidade encerra aos fins-de-semana por falta de pessoal, "problema que está a ser resolvido", explicou à Fugas o presidente do Turismo do Algarve, António Pina (em Julho, dos 21 postos de turismo da região, apenas metade estava aberta todos os dias).

"Silves é muito interessante", diz Sander, "e para mim é fundamental ir lá de vez em quando, sobretudo no Inverno, quando não temos hóspedes e eu preciso de ver pessoas". A serra de Monchique, com as suas termas, bem recuperadas e com um restaurante ideal para fazer uma pausa (chama-se 1692 e a esplanada convida), é outro dos destinos sugeridos na Brejeira.

"Estou muito preocupada com as notícias sobre a exploração mineira em Monchique [minas de feldspato, contra as quais há já uma petição online]. Acho que tudo isto pode desaparecer", lamenta Claire, que se habituou a respeitar a natureza no Benim, onde viveu toda a adolescência (o pai era engenheiro agrónomo e trabalhava em projectos de desenvolvimento naquele país africano). "Foi no Benim que aprendi a valorizar a sombra e essa aprendizagem é muito útil aqui."

As tardes são quentes e as noites frescas, na Brejeira. Tomar um duche a olhar para o vale ao fim do dia, depois de horas passadas na praia da Ingrina é um bom projecto, antes de um jantar leve no alpendre junto à caravana cigana dos anos 50, num cenário que faz lembrar Gato Preto, Gato Branco, de Emir Kusturica, e nos devolve algumas das imagens de Liberté, de Tony Gatlif. Não falta, sequer, a música dos Balcãs, saída de uma selecção variada que Claire e Sander põem à disposição dos hóspedes e que supera e muito, em qualidade, a da pequena biblioteca junto à salamandra.

Para estes holandeses que vieram para o Algarve interior cansados da cultura de consumo do seu próprio país, a Brejeira é uma espécie de segredo onde é possível fugir das luzes nocturnas. "Aqui escurece verdadeiramente, o que nunca acontece na Holanda, onde quer que estejamos. Aqui, se quisermos apagar as luzes, somos engolidos", acrescenta Sander, que nunca se esquece de lembrar aos hóspedes este privilégio da escuridão e o de poder deixar as portas abertas a toda a hora.

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