"Isto aqui é outro Algarve"
Agora aqui vamos nós, capota para trás, debaixo de sol e de um vento agradável, a cruzar a A22 até Lagos. Depois tomamos a EN120 e contamos 21 quilómetros até Aljezur. Por enquanto estamos no Algarve sem mar e o arvoredo é quem mais ordena. Vemos pinheiros mansos, alfarrobeiras, um ou outro eucalipto. Avançamos vagarosos, dando descanso ao asfalto. Vamos subindo aos ss e agora que subimos o calor vai descendo. Já vemos, ao fundo, o que resta do Castelo de Aljezur terá sido a última praça do Algarve a ser conquistada aos mouros, em 1249, no reinado de D. Afonso III.
Andar até lá não será coisa que se faça com uma perna às costas e vai daí rendemo-nos à preguiça e continuamos de carro. De qualquer modo, mesmo quem caminhe até ao topo dará a jornada como compensadora é de se lhe tirar o chapéu a vista que se tem para as serranias envolventes.
A construção do castelo de Aljezur é atribuída aos árabes no século X, embora escavações realizadas nos anos de 1990 apontem para uma ocupação do lugar que pode remontar à Idade do Bronze. As suas muralhas são robustas, com 1,50 metros de espessura, e as torres de vigia maciças, com nove metros de altura. Do que resta da construção, sobressai a cisterna, onde eram acumuladas as águas pluviais.
Vamo-nos entretendo a ler os painéis informativos que se espalham pelo recinto e entretanto reparamos que, para além de nós, está cá apenas uma família de quatro. São portugueses do Norte, que o sotaque não engana.
Silvério Jorge, o pai, confirma que são de Gondomar. Estavam de férias em Albufeira, ainda hoje seguem para Porto Covo, mas, porque há diferentes gostos em casa, pararam em Aljezur.
Discurso directo: "Isto aqui é outro Algarve, completamente diferente daquele de onde vimos. Parei para os miúdos verem a diferença". E agora entra em cena Bruno, dez anos: "Eu prefiro isto aqui, nem se compara. Quando for grande quero ser paleontólogo ou arqueólogo e por isso interessome muito por coisas históricas." O irmão, Tiago, de sete anos, tem outra opinião: "Gosto muito, muito, muito mais de Albufeira". Algarve à medida de cada um, portanto.
Um certo ar de fim do mundo
Pela parte que nos toca, estamos na disposição de continuar na peugada da presença árabe na região. Entramos no carro dispostos a rumar ao Ribat de Arrifana, mas, porque temos tempo e vontade, antes passamos (e paramos) na praia de Monte Clérigo. Não é aqui, porém, que caímos no mar. Optamos por seguir para a Arrifana, praia cuja fama nos despertara a curiosidade.
Tem fama e tem proveito: visto daqui, de cima, o cenário não podia ser mais animador. O mar de um azul que se diria mais típico das Caraíbas contrasta com o negro dos rochedos que lhe definem o carácter e há pouca gente no areal (será do desnível que é preciso descer e depois, naturalmente, subir?). Aí vamos nós, de toalha na mão, e só nos apetece entrar no mar. Só que a nossa visão de Caraíbas foi uma ilusão de óptica: cá de baixo, o azul não é tão turquesa como supúnhamos, mas nem é esse o problema. A água está fria vínhamos habituados à temperatura que se experimenta "lá em baixo", no outro Algarve. Ainda assim, assentamos arraiais e ficamos a ouvir o mar, que as vozes dos poucos que cá estão connosco não se destacam por aí além.