Para aqueles que não se queiram aventurar pela estrutura instável, existe um pedaço exposto no vestíbulo nobre, logo ao lado, onde se concentra a maior parte da exposição sobre o projecto de restauro. Inclui fotografias de 1994 - altura em que foi feito um levantamento arquitectónico e fotográfico do chalet, enquadrado num Plano de Recuperação e Valorização que não chegou a avançar - e imagens e salvados do edifício (re)encontrado em 2007 - ano em que teve inicio o processo de reconstrução que permitiu em Maio a abertura ao público.
O vestíbulo nobre - com a sala das heras de um lado, a casa de jantar de outro e a caixa de escadas em frente - tinha uma pintura pormenorizada, colorida e geometrizada, a avaliar pelas pequenas fotografias que documentam o projecto. Sobram um pequeno canto e a pintura geral de duas paredes, testemunhos do incêndio que quase destruiu por completo o edifício em 1999, pois não só as paredes novas estão brancas, à espera que lhes chegue o processo de restauro, como a pintura que sobrou tem agora uma tonalidade avermelhada, quando originalmente era amarela.
Mas a zona das escadas, também devastada pelo fogo e agora reconstruída, é talvez a mais interessante - a "jóia do interior", segundo o arquitecto - porque é o "elemento mais elaborado", totalmente revestida por uma pintura mural atribuída a Domingos Freire, onde se destacam os dois homens sentados de costas voltadas, a tocar um instrumento semelhante a uma corneta.
O piso superior tem apenas quatro divisões: o quarto principal, uma sala de apoio e os quartos de vestir da condessa e do rei - as duas áreas mais pequenas, mas com a decoração mais pormenorizada. No primeiro, o rendilhado branco que sobe as paredes azuis claras deu-lhe o nome de Quarto das Rendas e o do rei, mesmo em frente, mostra agora uma pintura em trompe-l"oeil a imitar um acolchoado, anteriormente tapado por um revestimento trabalhado em madeira e cortiça, semelhante ao da sala de jantar.
Contudo, o chalet não foi feito para habitar, mas erigido como casa de veraneio, num misto de edifício de apoio àquela zona do parque e espaço de refúgio e dedicação a uma segunda fase da vida do rei. Por isso, e porque as divisões estão vazias e a maioria das paredes despidas, ainda por restaurar, conhecer o interior pode desiludir os mais desprevenidos (principalmente se antecedido pela visita ao sumptuoso e recheado Palácio da Pena, localizado na outra ponta do parque e a cerca de meia hora de distância a pé, por subidas e descidas de calçada).
E, embora a visita não deva ser encarada na óptica do turista ávido por ver muitas coisas, sente-se ali falta, não necessariamente de objectos, mas da história do casal que idealizou a pequena vivenda e o jardim envolvente, repleto de recantos e plantas dos quatro cantos do mundo, que explorámos em seguida.
Um jardim de sensações
O chalet foi erguido na Tapada da Vigia, localizada num dos extremos do Parque da Pena e posicionado de forma estratégica. Por um lado, afastado do palácio, mas mantendo com este uma relação visual, assim como com o mar. (Das duas vezes que lá estivemos, nem palácio nem mar, apenas nevoeiro; mas garantiram-nos que em dias de céu limpo eles se vislumbram dali, embora dificultado pelo crescimento das árvores.) Por outro, enquadrado junto a um conjunto de grandes pedras de aspecto dramático e próximo de um vale, até ao qual se estende o jardim.