Fugas - Viagens

Uma manhã em busca das aves do estuário do Tejo

Por Cláudia Sobral

O Turismo de Portugal quer apostar no turismo de Natureza e lançou o roteiro "Observação de Aves". A Fugas visitou dois dos locais sugeridos no estuário do Tejo, num passeio de "birdwatching".

Primeira paragem, Sítio das Hortas, Alcochete. "Estou a ouvir um estorninho-preto", diz João Jara, que criou a primeira empresa dedicada ao birdwatching em Portugal, a Birds & Nature, mal põe os pés fora do autocarro. Tenta encontrá-lo, mas depressa aponta na direcção de umas árvores: "Estão ali umas garças-brancas." 

Neste lugar é possível observar dezenas de espécies de aves numa manhã como esta. O estuário do Tejo é um dos 36 sítios de interesse do roteiro Observação de Aves, que o Turismo de Portugal lançou na semana passada com um passeio de birdwatching por alguns pontos do estuário. Já um pouco mais à frente, pelos binóculos e telescópios vemos centenas de flamingos, também colhereiros, alfaiates, que se vão alimentando nas lamas entre marés do estuário do Tejo.

"Portugal tem um potencial inacreditável para o turismo ornitológico mas não está a ser aproveitado", afirma João Jara. "Consigo mostrar só num dia no estuário do Tejo mais de cem espécies de aves", garante. Daí a aposta do Turismo de Portugal neste nicho do turismo de Natureza, identificados no Plano Estratégico Nacional de Turismo de 2007 a 2015 como um dos dez produtos estratégicos para o turismo nacional. 

"Temos todas as aves que Espanha tem mas muito mais concentradas. Um turista chega ao Algarve e em 20 minutos está a ver flamingos. Em 90 minutos, abetardas", explica Jara. "E Lisboa é a única capital da Europa a 20 minutos de um estuário."

Em Portugal há 93 áreas importantes para as aves, onde podem ser observadas com regularidade 360 espécies, muitas delas "com uma distribuição restrita na Europa e no mundo, pelo que se tornam atractivas para os visitantes estrangeiros", lê-se no roteiro que, pelo menos por agora, será distribuído apenas pelos agentes turísticos e hoteleiros.

Não muito longe do Sítio das Hortas, no Paul da Barroca d’Alva, João Jara aponta para um peneireiro-cinzento. Deram-lhe este nome porque “fica a peneirar”, num bater de asas que não o faz sair do lugar. “É uma das espécies mais pedidas pelos turistas”, diz. Por isso o escolheu para símbolo da Birds & Nature, que oferece vários programas de birdwatching.

Domingos Leitão, coordenador do programa terrestre da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), mostra um papa-ratos, escondido entre a vegetação, e vai ajudando os mais inexperientes, explicando o que distingue cada espécie com a ajuda das imagens do seu guia de identificação de aves.

Entre os sítios de interesse sugeridos pelo roteiro - que inclui itinerários por sete zonas do país - estão também as serras da Peneda-Gerês e do Montezinho, a ria de Aveiro, o estuário do Mondego e a serra da Estrela, as Berlengas, o estuário do Sado, a lagoa de Santo André, Castro Verde, lagoa dos Salgados e a Ria Formosa, assim como a floresta laurissilva da Madeira, e outros pontos em cada uma das ilhas dos Açores.

O Turismo de Portugal espera, com isto, criar oportunidades de negócio num país em que a actividade de observação de aves está em crescimento, mas ainda tem poucos adeptos. "Em Portugal haverá quatro a seis mil pessoas a observar aves", arrisca Domingos Leitão, que colaborou com o Turismo de Portugal na criação do roteiro. Para ele, a aposta no birdwatching é fundamental: "As pessoas não se vão preocupar com a conservação da natureza se não a conhecerem."

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