Fugas - Viagens

  • Uma viagem que cruza o Cazaquistão, Uzbequistão e Turquemenistão..
    Uma viagem que cruza o Cazaquistão, Uzbequistão e Turquemenistão..
  • Darveza
    Darveza
  • Turkmenabat
    Turkmenabat
  • Turkmenabat
    Turkmenabat
  • Bukhara
    Bukhara
  • Bukhara
    Bukhara
  • Bukhara
    Bukhara
  • Khiva
    Khiva
  • Khiva
    Khiva
  • Khiva
    Khiva
  • Khiva
    Khiva
  • Khiva
    Khiva
  • Samarcanda
    Samarcanda
  • Samarcanda
    Samarcanda
  • Samarcanda
    Samarcanda
  • Samarcanda
    Samarcanda
  • Samarcanda
    Samarcanda
  • Samarcanda
    Samarcanda
  • Shah-I-Zinda
    Shah-I-Zinda
  • Tasckent
    Tasckent
  • Astana
    Astana
  • Astana
    Astana
  • Astana
    Astana
  • Astana
    Astana

Continuação: página 2 de 6

Encontros, folias e visões no comboio da Rota da Seda

Por isso, e não só, o Turquemenistão se veio a apurar como o troço mais inesperado do programa. Começou pela aparente bizarria de um dia inteiro de comboio, depois de um dia inteiro de avião, apenas com meia dúzia de horas de cama de hotel pelo meio. Tudo isto para ver, já noite cerrada, uma das crateras de gás de Darveza. Isto em pleno deserto de Karakum, 300 quilómetros a norte da capital Achkabad e já completamente fora da Rota da Seda. Se era uma manobra de diversão, no entanto, haverá que reconhecer que resultou em pleno. A cratera de gás Darveza é mesmo uma visão única e, mais do que isso, uma experiência do outro mundo.

Resultando de ensaios abortados de exploração de gás, nos anos 50, duas crateras acabaram preenchidas por lama borbulhante, mas a terceira continua em chamas. O calor abrasador, os múltiplos focos de combustão, o buraco enorme que se vai cavando, mais a falta de iluminação e de qualquer cerca de protecção, são do género de causar calafrios. O suficiente para metade da excursão arrepiar caminho, mesmo antes de assomar à sua beira. Darveza é uma aberração contranatura e um desastre ecológico, sem dúvida, mas poucos lugares no mundo proporcionarão uma experiência tão intensa e abismática.

Igualmente invulgar se revelou Achkabad, ou o que dela nos foi dado a ver de relance. Foi, vinte anos depois da queda do Muro de Berlim, uma excursão típica da era soviética: no programa estavam visitas a monumentos e sítios arqueológicos que não interessam a ninguém, enquanto pelo caminho se entrevia uma capital faustosa, novinha em folha, feita de torres de mármore, amplas avenidas e zonas ajardinadas no meio do deserto. Houve então que romper o programa e fugir às instruções dos guias para levantar um pouco o véu sobre esta espécie de nova utopia totalitarista.

O terceiro dia no Turquemenistão foi ainda mais esquisito. As autoridades não deixaram o comboio parar por enigmáticas razões políticas em Merv (uma das capitais da antiga Rota da Seda), forçando-o a fazer escala mais à frente, em Turkmenabat. É a segunda maior cidade do país, já nas vizinhanças do Uzbequistão, sobretudo importante do ponto de vista geoestratégico, mas onde não há rigorosamente nada para ver. Acabou por ter mais piada por isso mesmo: primeiro fomos às ruínas de uma fortaleza, tão arruinadas que eram indecifráveis, levando a maior parte da excursão a descolar para uma visita improvisada a uma fábrica de tijolos nas imediações, para grande irritação dos guias.

Os ditos guias não estavam num dia de sorte e foram depois incapazes de encontrar o terminal fluvial do rio que passa pela cidade, acabando por estacionar à porta de uma fábrica aparentemente abandonada, de onde saiu um segurança aos gritos que não se podia entrar, nem fotografar, vá-se lá saber porquê. A cereja em cima do bolo Turkmenabat foi a visita ao museu local, com o principal espaço de exposição preenchido com imagens do actual presidente Berdimuhamedow a cortar fitas, a tocar acordeão, a andar de moto e a apertar a mão a Kofi Annan. Políticos e seguranças à parte, os turcomenos devem ser um dos povos mais hospitaleiros à face da terra, sobretudo os habitantes desta cidade no cu de Judas que recebem os turistas ocidentais como amigos de longa data.

--%>