Os leigos podem achar a cidade fotogénica e acolhedora, mas sem leitura simbólica Tomar é como um filme sem legendas. Exemplo: em Santa Maria do Olival, logo no tímpano está uma estrela de cinco pontas. Não é por acaso, assegura o autor: "A estrela de cinco pontas está ligada ao Rei Salomão a nível oficial, mas num plano mais esotérico representa a realização do Homem. O número quatro está ligado à Terra, enquanto o cinco espiritualiza e supera o quatro. Por isso, no Renascimento era muito comum representar o Homem no meio de uma estrela de cinco pontas, que simboliza a sua realização. Também acontece nas artes marciais: o cinco é o lutador que combate contra os quatro pontos do espaço e isso significa que ele supera as limitações da Terra e encontra o Centro."
Além do cinco, também o oito é um número de ouro na aritmética templária. Voltamos a Santa Maria do Olival: "Entra-se por uma escadaria de oito degraus, depois há quatro colunas de cada lado e uma pia batismal octogonal. Ora o octógono simbolizava no Cristianismo a regeneração." Aquela faixa de visitantes que se perder na tradução ou achar mesmo que estas contas são um bocado alucinadas poderá, no entanto, encontrar elementos esotéricos mais prosaicos na antiga capital da Ordem de Cristo, nomeadamente na igreja manuelina (século XVI) de São João Baptista.
João Baptista, diga-se de passagem, era o padroeiro dos Cavaleiros de Salomão, identificado como precursor ou mesmo profeta alternativo a Cristo. Concentramos a atenção no quadro de Gregório Lopes que representa o enigmático Melkitsedek, rei-sacerdote que abençoa Abraão.
Agora repare-se que por detrás há um judeu e um muçulmano, que acompanham um monge, representando assim a convivência das três religiões do Livro. Paulo Loução é peremptório: "Mostra que ainda persistia um conceito ecuménico no tempo da Ordem de Cristo. Isso foi pintado em 1530 e pouco depois a Inquisição foi instituída - ou seja, completamente contra-corrente com o pensamento da época."
No castelo templário, datado do século XII, encontram-se outros testemunhos ecuménicos, pelos vistos a leitura de Tomar privilegiada pelo autor. A charola, em particular, terá sido construída segundo o modelo da Cúpula do Rochedo, ou Mesquita de Omar, que domina a Esplanada das Mesquitas em Jerusalém. Esta Cúpula do Rochedo tem também subjacente a ideia ecuménica, uma vez que a pedra que lá se encontra guardada é sagrada para as três religiões.
Mas a cereja no bolo místico de Tomar é, obviamente, o fantástico Coro Manuelino e a sua célebre janela lavrada de elementos esotéricos.
Paulo Loução vai ao detalhe: "Posso falar, por exemplo, de uma cabeça que está dentro de um nó em forma de coração. Esse coração estava ligado com uma corrente esotérica chamada Os Fiéis do Amor, que preconizava amor místico." Tudo o que é mágico se visita em Tomar, com a notável excepção do Claustro da Lavagem do Convento. É pena, porque detém a maior colecção de estrelas funerárias do mundo templário. Um festim místico que inclui desde rosas-cruzes a estrelas de cinco e de seis pontas.