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Pai e filho à redescoberta de África numa 4L

Por Mara Gonçalves

Eles provam, de facto, que "nunca é tarde". Pai e filho uniram-se para uma aventura que, durante quase um ano, os levou a redescobrir África a bordo de uma 4L.

Em cima da mesa da sala estão vários comandos, mas Carlos Carneiro, o pai, já não sabe o que comandam. As camisas, algumas continuavam estendidas ao sol, as outras encontrou-as quase dois meses depois de regressar a Portugal, ainda no embrulho da lavandaria. Onze meses e dez dias pelo pó e aldeias africanas a bordo de uma 4L e em acampamentos selvagens - numa redescoberta da "África verdadeira" e da relação com o filho - transformaram-no por dento. Voltou "esquecido" das rotinas, "selvagem" e "muito mais novo". "Parti com 70, agora não terei mais do que 40", ri-se.

Para Carlos Carneiro, o filho, viajante profissional - que muitos se recordarão de outra aventura, o projecto Até onde vais com 1000 euros?, com Jorge Vassallo -, o regresso não foi tamanha "catástrofe", mas o chip também mudou. "Ando num carro em que fiz África inteira sem receios e agora faço quatro quilómetros e acho que aquilo se vai partir tudo". Fala-se da Catrela, uma Renault 4L vermelha que os conduziu por 40 mil quilómetros depois de três chumbos seguidos na inspecção.

Como "Nunca é Tarde" - máxima passada a site onde discorreram aventuras em diário, crónicas, fotos, vídeos e dicas - pai e filho partiram na velha 4L pelo litoral africano, num total de 25 países (além de Portugal e Espanha) e com uma única regra à partida, quebra-gelo da relação: ser permitido "dizer palavrões e comentar miúdas". No caminho, enterraram-se nas lamas da estrada entre a Nigéria e os Camarões, comeram gambas em Moçambique, encontraram um masai no Quénia que fugiu ao pai e queria vir com eles para Portugal (mas o pai acabaria por "bater-lhes" à porta para ir buscar o filho). 

Desejavam fazer "o ciclo todo no sentido dos ponteiros do relógio", mas a revolta na Líbia trocou-lhes o Norte. Conseguiram lá entrar depois, já quase no final da viagem, num acerto de tempos perfeito: segundo as milícias, terão sido os primeiros turistas a entrar e percorrer o país de carro desde que os rebeldes tinham tomado o poder. A reviravolta política mostrou-lhes o país num momento "irrepetível".

"Deram-me talvez a experiência mais forte da viagem, que é sentir um povo que perdeu 50 mil pessoas numa guerra civil e que está sempre a rir e a fazer V de vitória, completamente doidos e contagiantes", recorda Carlos filho. Na Líbia ofereceram-lhes dinheiro, comida, gasolina (€0,09/litro!), o primeiro pneu novo da Catrela e guarida. Até "um bocado do palácio do Kadhafi" trouxeram, depois da visita aos escombros. Ficaram "espantados com a recepção", depois de tantos avisos e reprimendas. Mas "viajar é enxotar preconceitos", como já tinha constatado Carlos filho no site da viagem a propósito de Angola, um dos motivos da empresa africana.

Num almoço típico de fim-de-semana, o pai tinha desafiado o filho para uma viagem com continente imposto à partida: África, terra pela qual se tinha apaixonado durante o serviço militar e onde regressara muitas vezes em trabalho. Queria agora conhecer e mostrar ao Ocidente "a verdadeira" África, "das aldeias, das florestas, das pessoas". O filho propôs então uma viagem de carro até Angola, mas o pai, com "todo o tempo do mundo e mil euros por mês para tirar da reforma", não se ficou: "para ir a Angola dou a volta toda!". A antiga colónia passava assim de destino a local de passagem, mas não deixava de ser um dos grandes interesses do pai. "Vivi muitos anos lá, queria ver como é que estava, sentir outra vez aquilo".

Já o filho ia com poucas expectativas, repelido pela visão, ora saudosista, ora mercantilista que se tem de Angola. Regressou de preconceito enxotado e "a adorar". "É um país topo para se viajar em África: são das pessoas mais simpáticas, muito divertidas, cultas. Luanda é uma cidade muito cosmopolita, com muita noite e atividade". Só há um problema. Se Angola é afinal de contas "o Brasil de África", também é a Coreia do Norte do continente. "Não dão vistos a ninguém", conta o filho, relembrando o mês que ficaram em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (o ex-Zaire), à espera de permissão para entrar no país. Bateu o "recorde da paciência", num total de 110 dias passados em capitais e 88 idas a embaixadas e consulados para tratar de vistos durante toda a viagem. Valeu-lhes a perseverança, e também o apoio da diplomacia portuguesa, para ultrapassar os apertos da papelada.

Perguntem-lhes e eles responderão sem hesitar: a burocracia foi a única experiência "menos boa", que os fez alongar mais três meses a viagem. Malárias? Quatro superadas, até a pior, que fez Pedro Dias, um amigo que os acompanhou parte da viagem, ficar em pele e osso. Roubos? Nove, nenhum que os fizesse voltar para trás. Cinquenta e sete idas ao mecânico e 25 furos? A Catrela foi escolhida por ser fácil de arranjar e chegou cá.

"Uma viagem grande é como um livro" (e esta sai mesmo para as livrarias em Fevereiro), conclui Carlos filho, relembrando que têm de existir momentos menos bons para uns serem superados e outros surgirem. "Às vezes estávamos duas horas à espera que o sol viesse para aquecer o motor. Eram duas horas que ficávamos a beber café nas aldeias e a falar com as pessoas, que depois nos ajudavam a empurrar", conta.

Queriam fugir ao turismo de "picar o ponto" e viver quase como africanos, "sentir a mesma lama, comer a mesma comida", recorda o pai. Estiveram mesmo em "aldeias que nunca tinham tido um europeu a dormir", relembra o filho. Foi quase um ano, mas não chegou.

O pai regressa a Marrocos, enquanto não puder voltar ao Mali por causa dos conflitos que entretanto rebentaram. O Abas, um menino de sete anos, deu-lhe a mão para o ajudar a descer a falésia onde tinham ido visitar as antigas casas do País Dogon, apesar de momentos antes Carlos se ter recusado a dar-lhe dinheiro (são contra o estímulo à mendicidade). O gesto de Abas tocou-o e fá-lo agora querer voltar para ajudar a financiar os estudos da criança.

O filho regressa à Etiópia em 2013, agora como guia para a agência onde trabalha (a Nomad). O "país fetiche desde há muitos anos" superou as espectativas, com as "histórias de encantar" a confirmarem-se no terreno e um "povo espectacular, muito bonito e simpático". O que não voltará a acontecer é odisseia semelhante. "É uma viagem tão única que nem vale a pena repetir", confessam.

Nunca é Tarde: Site | Facebook

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