Fugas - Viagens

  • Mural Rimbaud frente ao cemitério
    Mural Rimbaud frente ao cemitério Luís Maio
  • Liceu Rimbaud
    Liceu Rimbaud Luís Maio
  • Cemitério Charleville, caixa de correio Rimbaud
    Cemitério Charleville, caixa de correio Rimbaud Luís Maio
  • Escultura na rota
    Escultura na rota "Nos passos de Rimbaud" Luís Maio
  • "Buracos no espaço" Luís Maio
  • Maison des Ailleurs
    Maison des Ailleurs Luís Maio
  • Maison des Ailleurs
    Maison des Ailleurs Luís Maio
  • Maison des Ailleurs
    Maison des Ailleurs Luís Maio
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    Maison des Ailleurs Luís Maio
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    Maison des Ailleurs Luís Maio
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    Maison des Ailleurs Luís Maio
  • Madame Aubry (como é conhecida) decidiu  ela mesma organizar um itinerário por Roche e arredores, designado
    Madame Aubry (como é conhecida) decidiu ela mesma organizar um itinerário por Roche e arredores, designado "Nos Passos de Rimbaud" Luís Maio
  • Museu Verlaine
    Museu Verlaine Luís Maio
  • Rota Rimbaud-Verlaine
    Rota Rimbaud-Verlaine Luís Maio
  • Na antiga estalagem Lion D'Or, em Juneville, agora designada de Museu Verlaine.  Marc Gaillot é o dono da casa
    Na antiga estalagem Lion D'Or, em Juneville, agora designada de Museu Verlaine. Marc Gaillot é o dono da casa Luís Maio
  • Yazzy Hureaux, 72 anos de idade, autor de Un Ardennais Nommé Rimbaud (1991), obra que teve o mérito de reconduzir o poeta às suas raízes.
    Yazzy Hureaux, 72 anos de idade, autor de Un Ardennais Nommé Rimbaud (1991), obra que teve o mérito de reconduzir o poeta às suas raízes. Luís Maio
  • Hotel Le Dormeur Du Val
    Hotel Le Dormeur Du Val Luís Maio
  • Hotel Le Dormeur Du Val
    Hotel Le Dormeur Du Val Luís Maio
  • Cadeiras-poema com versos de Rimbaud gravados no inox, de Michel Goulet (2011)
    Cadeiras-poema com versos de Rimbaud gravados no inox, de Michel Goulet (2011) Luís Maio
  • Jardim da gare Charleville
    Jardim da gare Charleville Luís Maio

No rasto do Homem das Solas de Vento

Por Luís Maio

Rimbaud passou a vida a evadir-se de Charleville, mas a cidade e os campos das Ardenas são indissociáveis da sua poesia. Agora a lenda do poeta maldito tornou-se na principal atracção turística da região, dando origem a um sortido de circuitos que iluminam a sua poesia ao mesmo tempo que levantam o véu sobre a França profunda que a viu nascer. 
Arthur Rimbaud (1854-1891) pertencia a essa classe de almas inquietas que só estão bem onde não estão. Desde a adolescência quis evadir-se da pasmaceira de Charleville e do provincianismo das Ardenas Francesas, cepa torta à qual haveria de recolher por vontade própria, ou por força das circunstâncias várias vezes na vida. Sempre, porém, para aproveitar a próxima oportunidade e escapar-se de novo, cada vez para mais longe.

Se a memória de Rimbaud remete assim para uma mão cheia de destinos à volta do globo, já quando se fala de Charleville todas as conversas convergem para ele. A cidade, e na verdade todo o departamento já encostado à Bélgica, entrou no mapa do turismo de França exclusivamente ou quase pelo magnetismo do seu filho mais célebre. Uma atracção que deriva de uma curta carreira poética - menos de 250 páginas escritas entre os 15 e os 19 anos de idade, consagradas como invenção de "uma nova linguagem". Tanto ou mais que a escrita, no entanto, ou o culto, se alimenta dos seus 37 anos de "existência poética", com especial realce para o romance tumultuoso com Verlaine entre Paris, Londres e Bruxelas, e a posterior vida de errância, em particular o episódio de tráfico de armas na Etiópia.

A (única) imagem de Rimbaud que ficou para a posteridade é de um jovem fotogénico, sonhador e principalmente rebelde - cem anos antes de a rebeldia se converter num fenómeno juvenil à escala planetária. Hoje, provavelmente, seria cantor numa banda rock alternativa, artista de rua ou pirata informático. Na época, no entanto, a poesia representava a forma suprema de ser do contra. Sobretudo uma poesia como a de Rimbaud, abismática e visceral, feita de imagens contorcidas e febris, feitas para minar o conformismo e até produzir vertigens. Por isso se tornou numa figura de culto na França  do Maio de 1968 e um ícone da contracultura universal - Patti Smith chamou-lhe "o primeiro punk rocker".

Coube ao député-maire André Lebon - o mesmo que fundiu administrativamente Charleville com a vizinha medieval de Mézieres - perceber o potencial turístico da lenda rebelde. Desde a abertura do museu dedicado ao poeta, em 1969, a capital das Ardenas viu nascer uma associação cultural, uma livraria, um restaurante, um centro de terapia, um Lion's Club, uma trufa de chocolate e até uma corrida pedestre em memória do "Homem de Solas de Vento". Todas as efemérides são desde então aproveitadas pela edilidade para multiplicar os lugares da memória e fazer crescer o circuito Rimbaud, mais recentemente ampliado até às cercanias, incluindo a aldeia de Roche, da qual era originária a sua família materna.

O instinto da fuga

"Charleville para Rimbaud era um porto do qual partia ciclicamente. O mais importante para ele era o Meuse  - o rio impassível do qual fala no famoso Bateau Ivre. Era o sítio mais vivo da cidade, porque era aí que estava o comércio, os tintureiros, as lavadeiras, as primeiras indústrias (uma fábrica de armas mesmo ao lado), e em simultâneo o cinzento, que está em todo o lado. Este cinzento que acentua todas as outras cores - porque todas as cores que Rimbaud tinha na cabeça, todas as suas invenções de desconhecidos, são ampliadas pelo cinzento reinante em Charleville. Ele sente-se sufocar e escreve mesmo numa carta: ‘Sinto-me decompor no cinzento'".

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