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A noite musical de Zé Pedro é na Baixa

Por João Bonifácio

Em miúdo, Zé Pedro saía à noite na Avenida de Roma, depois transferiu-se para o Bairro Alto e o rock levou-o ao seu Johnny Guitar, em Santos. Mais tarde, o fado levou-o a um abraço aos Stones. Hoje, centra-se na Baixa e no Cais do Sodré. Para a Lisbon Week (22 a 28 de Outubro), "abençoou" uma rota por templos musicais.

{Lisbon Week: As sete rotas da semana de Lisboa}

 
Quando Zé Pedro era um miúdo a caminho de ser músico, mas que ainda não imaginava vir um dia a tornar-se o mítico guitarrista dos Xutos & Pontapés, a noite começou a fazer cada vez mais parte do seu, passe a expressão, dia-a-dia.

Nessa época, "a noite de sexta-feira e a de sábado começava sempre da mesma maneira", conta o homem das seis cordas à Fugas: "Ia-se ver o concerto dessa noite ao Rock Rendez-Vous e só depois se abalava para outros sítios." 

Quando o Rock Rendez-Vous fechou, outros sítios nasceram - como aquele que sentiu necessidade de criar em 1990, com outros amigos músicos, para haver um espaços para os concertos e para o rock português (e não só) em plena Lisboa. Em Santos, nasceria o Johnny Guitar, na Calçada Marquês de Abrantes, que durante seis anos marcou a noite e a rota musical pessoal de Zé Pedro.

Hoje, o seu Johnny Guitar já não existe, mas há o MusicBox, no Cais do Sodré, que é "um prolongamento do Johnny Guitar": "É um sítio especial, com a mística das casas dedicadas aos concertos ao vivo. Vou muito lá: seja para pôr música, ou ver bandas, ou mesmo tocar. Estou lá sempre que posso." 

O MusicBox é um dos 14 sítios que fazem parte da Rota Optimus Música, de que Zé Pedro é embaixador. A Rota da Música é um dos sete percursos temáticos inseridos na Lisbon Week, uma iniciativa para promover o potencial da cidade que decorre de 22 a 28 de Outubro. Enquanto embaixador da Rota, Zé Pedro estava incumbido de escolher os locais que considera particularmente atractivos para a fruição de música ao vivo, mas a selecção musical que cada casa irá apresentar durante a semana é da responsabilidade dos próprios estabelecimentos.

Olhando para as escolhas de Zé Pedro, verifica-se que a rota se centra quase exclusivamente na Baixa, mas se tivesse sido feita há uma trintena de anos não seria assim - ao fim e ao cabo, a noite, para ele, "começou no Brown"s, por trás da Avenida de Roma, um local que passava punk e os Police". "Na altura era difícil ouvir isso fora de casa." Nesses tempos, a malta da música ia "ao Frágil, ao RockHouse" [no Bairro Alto] e "tudo isso era muito excitante, porque estava a começar", diz, recordando "a abertura do Plateau" [na Avenida 24 de Julho] como um momento estrondoso".

"Quando a movida começou a sério foi no Bairro Alto", lembra Zé Pedro, reconhecendo que "neste momento o ponto de encontro do pessoal da noite é o Cais do Sodré". É lá que agora está o B. Leza, conhecido pelas suas noites de música africana. "É muito importante que o B. Leza não tenha acabado", congratula-se o guitarrista, "porque é um local mítico". O B.Leza, diz, "teve uma importância muito grande na [sua] vida noctívaga". "Fechava muito tarde e toda a gente acabava por ir para lá terminar as noites mais longas."

O fado dos Stones

Mas a Rota de Zé Pedro não inclui apenas os seus lugares de eleição: o músico diz que optou por "não incluir todos os [seus] sítios" de modo a "abranger géneros" musicais que não ouve tanto mas que aprecia e julga fundamentais - como o fado. 

Apesar de ser um melómano - portanto, e por definição, um ouvinte ecléctico - Zé Pedro nunca foi muito de fado - até ao dia em que teve "uma relação com uma sobrinha da Amália" e acabou "por ficar com uma relação com o fado". Daí a menção especial à Casa de Linhares - Bacalhau de Molho, em Alfama, e às suas noites de fado, que considera ser "a música da nação", antes de fazer notar que gosta de algumas coisas nesse género musical: "Sou muito amigo do Camané." 

Mas as relações que Zé Pedro estabelece são sempre da ordem do emocional e esta não escapa à regra. "Foi no Casa de Linhares que conheci os Stones, que tinham ido ver a Ana Moura a cantar. O João Pedro Pais é que me avisou que eles estavam lá." Entrou por ali adentro, entregou a máquina fotográfica ao segurança e deu um grande abraço a Mick Jagger. "O Jagger não devia receber um abraço espontâneo há décadas. O Keith Richards já ia muito acelerado. Disseram-lhe que eu era o Keith Richards português e ele não me ligou nenhuma. Acabei por ficar à conversa com o segurança deles, que me contou que o Jagger e o Keith Richards não jantavam juntos há anos." 

Outra casa que vem desde os tempos de juventude e que Zé Pedro inclui na sua rota é o Hot Clube, "uma referência importantíssima há anos". Coisa que muitos talvez não saibam, antes de sonhar ser uma estrela rock Zé Pedro era "muito do jazz". "O primeiro concerto que vi na vida foi do Miles Davis", lembra. "Antes de me dedicar a 100% ao rock ia muito ao Hot. Mas quem é mesmo frequentador assíduo ainda hoje é o Gui [saxofonista dos Xutos]. O Pedro Gonçalves [dos Dead Combo, que toca com Zé Pedro nos Ladrões do Tempo] também está lá sempre." Perto do Hot há o Ritz Club, que o guitarra-ritmo "tinha de incluir" porque "ia mesmo muito lá antigamente". Como com outras casas, Zé Pedro tem "uma relação muito pessoal com o Ritz": "Houve uma altura em que tive uma proposta para transformar o Ritz numa escola de rock, mas depois acabou por não ir para a frente, quando o João Soares perdeu as eleições." Zé Pedro congratula-se com a reabertura da sala: "Toquei lá, fui lá pôr discos muitas vezes e ainda continuo a ir lá ver bandas ao vivo."

Ir ver bandas ao vivo é o que ele faz em mais dois sítios que seleccionou, o Lounge (no Cais do Sodré) e o Santiago Alquimista (na zona do Castelo de São Jorge), porque, bem, porque é isso que Zé Pedro mais gosta de fazer quando não está a tocar: ver concertos, e estas são "salas que se impuseram". 

Alguns dos locais escolhidos por Zé Pedro destacam-se ou pela sua multidisciplinariedade ou pela surpresa das suas ofertas: o Ondajazz "é um sítio inevitável, porque tem muitas jam sessions", que, diz Zé Pedro, "são fundamentais no espírito do jazz". "Também tem muitos happenings e uma boa atmosfera." A loja de jazz Trem Azul é "outro sítio onde, além de se venderem discos, há sempre muita actividade, com muitos concertos", afirma, fazendo de novo notar que os seus amigos não dispensam a loja: "O Pedro Gonçalves frequenta-a muito." Quanto à Fábrica do Braço de Prata, é daqueles lugares onde Zé Pedro vai a torto e a direito "porque há sempre muitos lançamentos de discos e livros". "É um espaço plural", conclui.

Há ainda dois locais indispensáveis, que teriam sempre de estar na lista. Zé Pedro gosta do Museu da Música "sobretudo porque tem sempre exposições". E, bem, porque é "a [sua] arte, a [sua] profissão". E por fim há o Lux, onde vai "muito, acima de tudo ver concertos e DJ". "Dentro do meu circuito é obrigatório." 

Já o Largo de São Paulo não foi escolha de Zé Pedro (embora pudesse perfeitamente ser): é lá que vão decorrer três dias de concertos (organizados o mais tematicamente possível), com curadoria de João Paulo Feliciano: na quinta, 26, há Márcia, Walter Benjamin, Minta & The Brook Trout e You Can"t Win, Charlie Brown, na sexta, 26, Best Youth, Capicua, Octa Push e DJ Ride e no sábado, 27, o Real Combo Lisbonense, Julie & The Carjackers, a Roda de Choro Lisboa e Miguel Araújo. 

Zé Pedro não pôs o dedo no cartaz, mas abençoa a escolha.

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