Em Oujda, que se reclama capital do Magrebe árabe e capital económica do Oriental marroquino, conserva-se a medina de uma cidade com mais de um milénio de história, orgulhosa de ter tido a primeira escola moderna do país em 1907 e descobre-se um mercado vivo mas sem o regateio, amado ou odiado, dos vendedores.
Pelas ruas da medina, uma padaria comunitária faz biscoitos com canela, os ghribia, e alinha no forno o pão que cada família traz para cozer. Os rapazes que já não vão à escolar parece que brincam na rua com fios coloridos de seda, usam as paredes exteriores das casas para esticar dezenas de metros de fios finos acetinados e enrolam-nos. Os tubos de cana dos fios espalham-se pelo chão e descobre-se que não é brincadeira, é trabalho, embora artesanal, de enchimento dos cordões que debruam as djellaba. Os rapazes enrolam os fios e as mulheres ajudam a costurar em casa. Desde o primeiro fio até ao último ponto de uma djellaba vão 15 dias a um mês.
Berkane, considerada a segunda grande cidade da província, é o cruzamento por onde passa praticamente toda a produção agrícola da região. É famosa pelas suas clementinas, o que deu origem a um festival anual da clementina. A pouco mais de uma dezena de quilómetros, as montanhas Beni Snassen oferecem pontos de passeio e escalada, para além da gruta do Camelo, cujo nome deriva da semelhança do seu recorte com um dromedário, mas por agora fechada. A gruta vale ainda assim uma visita, sobretudo ao domingo: a pequena piscina de água nascente cavada na rocha à entrada junta dezenas de pessoas, entre as que saltam e as que assistem. E os jovens tremem de frio quando de lá saem, mesmo que o sol brilhe.
Voltando em direcção a norte, depois do Cabo da Água e das Ilhas Chafarinas, os olhos param em Mar Chica e na lagoa de 75 quilómetros quadrados. Nos velhos guias, Mar Chica (pequeno mar em espanhol) ou Lagoa de Nador chamava-se Sebkha Bou Arg. É para lá que está apontada a segunda fase de expansão do plano de desenvolvimento turístico da província Oriental, a seguir a Saidia, depois da despoluição das águas e da construção de um projecto turístico com mais um campo de golfe. Há quem diga que Mar Chica é ainda hoje a mais bela baía do Mediterrâneo. Dali até ao cabo das Três Forcas, passando por Melilla, a distância é curta, mas a estrada piora e a irregularidade do piso e as falésias requerem uma condução mais lenta.
Para esquecer o mar, é preciso virar a sul. São quilómetros de planícies e planaltos, parte deles irrigados pela força da barragem Mohamed V e pelos rios mais pequenos (oued) que atravessam a região até ao alto Atlas, ao clima semidesértico e a um dos maiores oásis do país, com referências históricas que vêm desde 3000 a.C. Nos confins de Marrocos Oriental, a cidade-oásis de Figuig a 900 metros de altitude, ampara-se à sombra de palmeiras e do que resta de velhos castelos (ksars).
E por entre lagoas, enseadas e castelos, esquece-se a crise? Não totalmente, embora Marrocos mantenha a sua Visão 2020 de ser um dos 20 maiores destinos turísticos do mundo e duplicar as receitas do turismo, incluindo a região Oriental no plano.