Fugas - Viagens

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Os livros não esperam que alguém os leve para férias, vão ter com os leitores

Para a FFMS, compreende-se o país em que vivemos pelos estudos sobre os últimos 25 anos em Portugal e pelos ensaios sobre questões como a economia, o sistema nacional de saúde, a televisão pública, mas também a família ou a sexualidade. "As pessoas tendem a perguntar se há romances, se há uma literatura mais juvenil ou infantil", conta Susana. Quando compreendem o tipo de livros disponível, a preferência recai sobre um ensaio que nada tem de infantil: A Morte, de Maria Filomena Mónica, aborda a eutanásia através da sua experiência pessoal e é dos mais escolhidos para levar para o areal. Outros temas densos e também muito requisitados são os que têm a ver com a economia portuguesa.

Susana Piegas nota naqueles que acabam por levar livros interesse em saber mais, em especial sobre temas relacionados com gestão e que acabam em pequenos debates nas cadeiras à sombra que se montaram ao início da manhã junto das estantes e do school bus. "Há debates muito interessantes que se criam e dinamizam aqui em relação a temas mais acesos como por exemplo o da corrupção, ou o livro do Pedro Pitta Barros sobre o sistema nacional de saúde".

"Por vezes, torna-se difícil motivar as pessoas para a leitura, elas estão mais preocupadas em desligar-se deste mundo que têm tido durante o ano. A forma que temos de cativar é a nossa carrinha, que tem tido muito sucesso", conta Pedro. É frequente que peçam para tirar fotografias ao pé do autocarro, ou mesmo ao volante, e só em seguida vêem os livros. Por dia, chegam a emprestar uma média de 30 e cerca de um terço é depois vendido. Sem preocupações e com mais tempo, os adultos com mais de 40 anos e sem crianças são aqueles que mais aderem à iniciativa.

Perto das 20h no Jardim do Príncipe Real já corre uma brisa, talvez semelhante àquela que o windsurfer previa para as seis da tarde na Costa. Quando não há muito que fazer, os livreiros da Tell a Story sentam-se à porta da sua Renault, em cadeiras de cartão resistentes, a ler as traduções que têm nas prateleiras na rua. "Às vezes, parece que carreguei no botão do invisível", diz Francisco sobre as alturas em que alguém passa e nem desvia o olhar. Para aqueles que não ficam curiosos com o negócio, o truque é mostrar-lhes os postais com retratos de autores portugueses que têm para oferecer e que muitos acabam por levar, sem nenhuma contenção. "Se o nosso negócio fosse postais, vendíamos muito bem", comenta Francisco com Domingos sem arrependimento de, no entanto, passar o dia a vender livros.

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