Fugas - Viagens

  • A extraordinária história de uma bicicleta e dos seus aventureiros,
    A extraordinária história de uma bicicleta e dos seus aventureiros, "um testemunho de amizade" DR
  • A bicicleta desaparecida, após ser encontrada pela GNR de Sines
    A bicicleta desaparecida, após ser encontrada pela GNR de Sines DR
  • Hernâni Cardoso (esquerda) com companheiros do Biketaskas e Eric Feng no Cabo da Roca em 2012
    Hernâni Cardoso (esquerda) com companheiros do Biketaskas e Eric Feng no Cabo da Roca em 2012 DR
  • A famosa bicicleta em pose épica durante a viagem de Feng
    A famosa bicicleta em pose épica durante a viagem de Feng DR
  • Eric Feng, quando recebeu uma bicicleta substituta e recordações de Portugal
    Eric Feng, quando recebeu uma bicicleta substituta e recordações de Portugal DR
  • Eric Feng em Sagres
    Eric Feng em Sagres DR

Hernâni vai pedalar à volta do mundo e no caminho «devolver a bicicleta ao chinês»

Por Mara Gonçalves

A bicicleta roubada ao homem que pedalou da China a Portugal reapareceu e o seu destino aventureiro vai continuar: o português Hernâni Cardoso prepara-se para pedalar na célebre bicicleta de Portugal à China e devolvê-la em mãos a Eric Feng. Uma paragem especial numa grande odisseia de Cardoso, que quer passar oito anos a pedalar à volta do mundo.

Era um sonho de infância: dar a volta ao mundo a pedalar. Agora, Hernâni Cardoso, à beira da reforma da Força Área, prepara-se para finalmente cumpri-lo. A viagem, programada há muito, será feita ao ritmo das pernas e das descobertas mas deverão ser pelo menos oito anos a cumprir um mapa criado a partir de muitos dos sítios onde os navegadores portugueses deixaram vestígios e tradições.

Para além de querer alertar para a importância da História portuguesa, a odisseia do militar de 52 anos tem outra particular missão: a de «devolver a bicicleta ao chinês», expressão porque ficou conhecido há alguns meses um célebre alerta, quando o cidadão chinês Eric Feng, após ter pedalado da China a Portugal, ficou sem a sua fiel companheira, tragicamente roubada em Sines, a poucas pedaladas da meta. Na altura, o alerta nas redes sociais não fez a dita reaparecer mas a onda de solidariedade levou a que Feng recebesse no seu país natal uma nova bicicleta (além de um cabaz de recordações portuguesas).

Mas eis que, meses depois do roubo e do alerta solidário, a bicicleta é encontrada. E agora, Cardoso, precisamente o amigo português que ajudou Feng a completar a aventura que ligou Kunming ao Cabo da Roca, decidiu juntar os seus planos à devolução da bicicleta. No próximo ano, vai pedalar todo o caminho na já de si famosa e viajada pedaleira, para lha entregar em mãos.

A notícia da recuperação da sua "amiga", diz Feng à Fugas, foi o "melhor presente" que já recebeu. Chegou via um simples email da GNR portuguesa mas com uma "óptima" e inesperada notícia. A sua bicicleta tinha, afinal, acabado por aparecer. Um final mais feliz para um homem que tinha cruzado o mundo em duas rodas em honra da memória dos seus navegadores preferidos, Zheng He e o Infante D. Henrique. A sua "querida" bicicleta, da qual "tem realmente saudades", que o acompanhou por seis meses, cruzou quase 15 mil quilómetros e dez países em 2012, ia regressar a casa.

Mas depois veio a "maior surpresa de sempre". Cardoso - que o tinha alojado em Almada após o incidente, emprestado uma bicicleta e acompanhado até à meta no Cabo da Roca - surgiu com uma ideia. Como a volta ao mundo que planeava iria passar pela China, em vez de enviar a fiel companheira de Feng através de uma transportadora, queria pedalar até Kunming e devolvê-la em mãos. "Nem queria acreditar", diz-nos Feng. "Parecia um milagre".

A bicicleta, encontrada pela GNR "abandonada num canavial" em Sines "esteve à chuva e tem muitas partes enferrujadas", conta Cardoso. Mas esta "não é uma bicicleta normal", diz. Assim, os acessórios danificados vão ser substituídos mas as peças velhas serão enviadas para a China para que, no final, toda a bicicleta se torne peça de museu.  


Uma longa viagem a pedal  

Na ilha das Flores, na Indonésia, celebra-se uma semana santa como se fosse em Portugal. Na Austrália e na Nova Zelândia há quem defenda que os navegadores portugueses lá chegaram 100 anos antes do inglês James Cook. Um português até chegou a ser imperador de Pegu, hoje em Myanmar. A cidade japonesa Nagasaki foi fundada por portugueses e todos os anos a ilha Tanegashima realiza um festival dedicado à espingarda, trazida por portugueses e importante na unificação do Japão.

São estas e outras histórias e tradições deixadas pelos navegadores portugueses pelo mundo fora que Cardoso quer unir em périplo pelo globo. Em 2014, a bicicleta do militar parte de Lisboa para um passeio histórico pelos cinco continentes, onde Hernâni conta visitar grande parte dos sítios onde "os nossos antepassados, especialmente os navegadores, estiveram e deixaram vestígios". Desde as óbvias Goa, Damão, Diu, Macau, Timor e quase toda a costa africana até ao sul do Irão e Golfo Pérsico ou à Costa do Malabar e Sri Lanka.

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