Da primeira grande viagem que fez, ao longo de 3600 quilómetros da mítica Route 66, nos Estados Unidos, trouxe a sopa de abóbora. Da aventura de um mês pela costa australiana, regressou com as bruschettas de tomate e molho pesto e o frango assado com que matou o jet-lag e as saudades de Portugal. No Brasil, comeu “a melhor moqueca de peixe” e provou a feijoada da Tia Lea. Da sua viagem preferida, 15 dias de camião pela Namíbia, nunca esquecerá o empadão de vegetais que jantou à beira do Fish River Canyon.
Entre trabalho e lazer, Catarina Serra Lopes já viajou um pouco por todo o globo. Em cada regresso, traz a memória recheada de novos sabores e a mala cheia de receitas, que depois, diz-nos, “reinventa à sua maneira”. O resultado é um número infindável de pratos inspirados nos quatro cantos do mundo, cozinhados diariamente em casa, ora para recordar refeições que não encontra em Portugal, ora para jantares diferentes com familiares e amigos.
Catarina sempre adorou comer e experimentar tudo, mas o gosto pelos tachos e panelas só chegou quando foi viver sozinha, altura em que também começou a viajar e a conhecer novos sabores e texturas. A paixão que entretanto ganhou pela culinária originou o livro “Pelo mundo com os tachos”, editado pela Temas e Debates. Um misto de gastronomia, périplos pelo mundo e imagens de cada local e/ou prato. “Como não sou chefe nem tenho um curso de cozinha, o que fazia sentido era puxar aquilo que é a minha profissão”.
Por isso, cada receita do livro é “inspirada numa viagem”, que serve de prólogo a cada prato. Antes da lista de ingredientes e das instruções de confecção, Catarina leva-nos a espreitar o país e a experiência que serviu de inspiração, através da descrição das paisagens deslumbrantes que visitou, do recordar das refeições ou das histórias das pessoas que conheceu pelo caminho.
“É um livro que se lê na mesa-de-cabeceira primeiro”, diz a jornalista (que também colabora com a FUGAS). “É para levar para a cozinha para fazer esta e aquela receita, mas primeiro lêem-se as histórias”. Como a do casal Nuray e Emre que compraram um barquinho para poderem estar juntos no dia-a-dia, a vender crepes aos grandes veleiros no sul da Turquia. Ou a história de como conheceu o criador das primeiras botas de esqui num restaurante na Suíça, enquanto comiam a mesma sopa de cebola gratinada. Ou de como na Sardenha jantou a poucos metros do actor norte-americano Bruce Willis, que saboreava um spaghetti nero com miolo de mexilhão.
E, então sim, depois de lida cada história, surge a respectiva receita. No total, 60 pratos, 25 países, cinco continentes. Das entradas à sobremesa, passando por sopas, saladas, pratos vegetarianos, de carne e de peixe. Há Bruschettas à Quirimbas, com sabor ao mar quente do arquipélago moçambicano. Há Triologia à Gonca Balik, da Turquia, com hummus, atum com iogurte e maionese de ovos e picles. Há Spaghetti à Amalfi, com amêijoas e vinho branco. Há saladas inspiradas no Brasil, na Irlanda, nas Maldivas, Itália ou Singapura, há receitas de frango de todo o mundo ou uma Sopa Moscovo (borscht, uma sopa rica de beterraba). “Depois há aquelas sobremesas que os meus amigos já dizem que é um clássico, como o Bolo de Floresta Negra, o Cheesecake Dois Minutos, ou o Doce Los Valles”. “São coisas muito rápidas e que geralmente fazem muito sucesso”, garante.