Não há como ignorá-la. Qualquer que seja o ponto a partir do qual nos aproximemos da Baixa, ela lá está, com o seu perfil recortado e esbelto, que já foi comparado a "um faustoso círio de romaria". É a Torre dos Clérigos, ex-líbris do Porto desde há um quarto de milénio e, naturalmente, um dos monumentos mais procurados por quem visita a cidade. É claro que, no tempo actual, e no horizonte da cidade, a altura da torre projectada por Nicolau Nasoni (1691-1773) foi já ultrapassada por edificações posteriores, desde complexos de habitação, comércio e serviços até hotéis.
Por essa razão, perdemos agora a noção do impacto que a construção teve nesse longínquo 1763, ano da sua conclusão, quando, com os seus 75 metros (e 240 degraus), se tornou não só a mais alta torre do país como uma das mais altas da Europa, tendo superado, por exemplo, as igrejas de Notre-Dame e de São Sulpício, em Paris, e construções congéneres em Hamburgo, York ou Bolonha.
Os Clérigos tornaram-se, nessa época, bem mais do que a torre sineira de uma nova igreja (e também enfermaria): funcionaram como marco de orientação para as embarcações que demandavam a barra do Douro, foram telégrafo, relógio, cenário de filmes, novelas e aventuras radicais, e até serviram como ponto estratégico para combates militares e políticos…
Numa visita da Fugas guiada pelo padre Américo Aguiar (juiz-presidente da Irmandade dos Clérigos), e pelo jornalista e historiador do Porto Germano Silva, este lembrou a importância que a torre teve, por exemplo, a anunciar a chegada mensal do vapor da Mala Real Inglesa, que trazia as encomendas e as letras de câmbio. "Pelo telégrafo, ainda do alto-mar, os do vapor comunicavam à Associação Comercial o dia previsto para a entrada na barra", informação que era transmitida aos comerciantes da cidade com o "içar de uma vara com duas bandeiras no cimo da torre".
Era também a torre do relógio que marcava a hora oficial do Porto, mesmo antes de o primeiro verdadeiro relógio aí ter sido instalado na década de 1830, vindo do convento dos frades lóios, a escassos metros dos Clérigos. Germano Silva, novamente: "Uma imaginativa engenhoca, constituída por um morteiro, um gatilho de revólver, um fio e uma lente, era colocada no cimo da torre. Chamavam-lhe a ‘meridiana’. Quando o sol do meio-dia incidia sobre a lente, queimava o fio, que soltava o gatilho e fazia detonar o morteiro. Era o sinal que o lojista esperava para encerrar o estabelecimento para o almoço". (Refira-se que, desde o início de 2012, e depois de uma intervenção de restauro, o relógio dos Clérigos voltou a marcar a hora da cidade).
Outra história, digamos, secular, que marca a inscrição da Torre dos Clérigos no imaginário dos portuenses foi a escalada realizada, em Outubro de 1917, pelos acrobatas galegos José e Miguel Puertollano, que Raul de Caldevilla "encenou", associou a uma imaginativa campanha publicitária das bolachas "Invicta", e registou para o mundo e a posteridade com o filme Um Chá nas Nuvens – um episódio a que Manoel de Oliveira assistiu, e que recordou no seu documentário afectivo Porto da Minha Infância (2001).
Uma cópia do filme de Raul de Caldevilla (guardado na Cinemateca Portuguesa/ Arquivo Nacional das Imagens em Movimento) é exibida regularmente na loja comercial dos Clérigos, e também, até 24 de Novembro, na exposição A Torre dos Clérigos e os seus fotógrafos, patente no Centro Português de Fotografia/Cadeia da Relação, que mostra como a construção de Nasoni atraiu as atenções dos fotógrafos praticamente desde o início desta nova técnica de registo do real: a exposição inclui imagens desde meados do século XIX (Joaquim Narciso Possidónio Silva, 1861; Jean Laurent, 1886…) e reúne postais turísticos e instantâneos recolhidos por alguns dos nomes maiores da história da fotografia em Portugal, como o pioneiro do cinema português Aurélio da Paz dos Reis (que registou a escalada dos Puertollano), Emílio Biel e Domingos Alvão.
Na viragem da segunda para a terceira década do século XX, a Torre dos Clérigos foi igualmente cenário e símbolo da cidade (por contraposição ao campo) em produções cinematográficas da histórica Invicta Film, em títulos como A Rosa do Adro (1919), de Georges Pallu, ou Mulheres da Beira (1923), de Rino Lupo.
Monumento nacional desde 1910
Estas e outras histórias são, no entanto, exteriores à dimensão mais directamente arquitectónica e religiosa dos Clérigos. Consagrado como Monumento Nacional em 1910, este complexo resultou de uma iniciativa da Confraria dos Clérigos (que resultou da reunião das irmandades do Socorro dos Clérigos Pobres de Nossa Senhora da Misericórdia, de S. Pedro ad vincula e de S. Filipe de Nery), que, em 1731, decidiu a construção do edifício como sede alternativa à instituição, que até aí se albergava na sede da Santa Casa da Misericórdia (Rua das Flores).
Nesse ano, já se encontrava no Porto, desde 1725, um afamado "pintor de perspectiva" (trompe l’oeil) italiano, que o deão da Sé Catedral, D. Jerónimo de Távora e Noronha Leme e Cernache, tinha feito vir de Malta, para decorar a capela-mor e a sacristia da Sé. Nicolau Nasoni, a figura em causa, foi desafiado a pegar no projecto de edificar uma igreja e enfermaria num terreno particularmente irregular no sítio da Cruz da Cassoa, também conhecido como Campo das Malvas – "ou Adro dos Enforcados, porque era nesse terreno que se enterravam os corpos dos criminosos que morriam na forca e dos presos que faleciam na Cadeia da Relação", nota Germano Silva, radicando aí a explicação para a conhecida expressão popular "mandar para as malvas", significando "mandar para o cemitério".
O projecto – que Nasoni desenharia "sem auferir qualquer pagamento", nota Germano Silva – começou pela edificação de uma igreja, que inicialmente deveria ter duas torres sineiras viradas para a Baixa da cidade. Em alternativa, acabaria por ser construída apenas uma torre, e nas traseiras do edifício, o que contrariava a tradição.
"No caso dos Clérigos, vê-se claramente o desejo de construir duas fachadas para dar resposta a dois problemas urbanos distintos. A primeira, de acesso à Igreja, constrói um eixo barroco com Santo Ildefonso, no monte oposto, contribuindo para a definição do Campo das Hortas (actual Praça da Liberdade) como importante centro da vida urbana da cidade", nota o arquitecto Manuel Montenegro, autor de uma investigação sobre a arquitectura de Nicolau Nasoni, que sairá em livro até final do ano (ver texto na pág. 13).
"É interessante pensar que a importância desta opção urbana obrigou Nasoni a um grande esforço para a solução da porta da igreja, que é atípica em contexto português e muito interessante", acrescenta Montenegro. De facto, uma das perplexidades para quem visita os Clérigos é a ausência da tradicional grande porta de entrada no templo. Quem acede ao edifício pela escadaria (posterior ao edifício original) da Rua dos Clérigos, entra numa minúscula capela/cripta – da Senhora da Lapa, belíssima na sua talha dourada, e que foi recentemente restaurada.
Do lado contrário, a poente, entra-se directamente na torre, sendo os acessos ao templo principal colocados nas alas laterais. Opções claramente condicionadas pela topografia do lugar. "Ao contrário de muita tradição nacional, em que a associação de programas era feita pela volumetria (um caso evidente é a associação de uma capela a um solar, ou de uma sacristia a uma igreja, com volumes distintos para programas distintos), Nasoni projecta, frequentemente, edifícios que integram as diversas funções num volume tendencialmente unitário", nota Manuel Montenegro. "Assim acontece nos Clérigos, onde não se consegue facilmente distinguir onde termina a igreja e onde começa o edifício do hospital e enfermaria", acrescenta.
O génio de Nasoni
Germano Silva considera que "onde o génio de Nasoni é mais perceptível é na concepção da nave oval da igreja" – "uma das únicas ovais em Portugal, que, pela novidade, rapidamente foi exportada para os territórios ultramarinos", assinala Manuel Montenegro –, "coberta de uma grande abóbada, uma solução pouco vulgar, se não mesmo inédita, no contexto da arquitectura religiosa portuguesa e que remata com o majestoso altar-mor, da autoria do mestre-pedreiro e arquitecto Manuel dos Santos Porto, concebido ao estilo Luís XV e em cuja construção se utilizaram mármores de quatro cores, provenientes de Pero Pinheiro, nos arredores de Lisboa".
O interior do templo – cuja construção decorreu entre as datas que estão inscritas em duas pias de água benta: 1732-1750 – é, de resto, marcado por uma especial elegância, que contrasta com um exterior de grande austeridade, uma "marca da tradição portuguesa por contraposição com a italiana", diz Manuel Montenegro.
Lá se pode também encontrar, no altar-mor de mármore, uma imagem de Nossa Senhora da Assunção, padroeira dos Clérigos, ladeada por esculturas (em madeira) de S. Pedro e S. Paulo.
Entre os tesouros dos Clérigos contam-se ainda dois órgãos barrocos (à espera de restauro); uma urna-sacrário para a "reserva eucarística", desenhada por Nasoni; as relíquias do mártir do século III, Santo Inocêncio (oferecidas aos Clérigos por D. Tomás de Almeida, que foi bispo do Porto, no início do século XVIII, e depois primeiro Cardeal Patriarca de Lisboa – "um percurso que agora foi repetido por D. Manuel Clemente", realça Germano Silva); um crucifixo com o Senhor dos Esquecidos da Salvação, uma cruz em madeira, que inicialmente se encontrava no topo da enfermaria; e um valioso oratório em talha dourada designado Santa Parentela, ou seja, uma Sagrada Família alargada às figuras da avó de Jesus, Santa Ana, e do avô, S. Joaquim.
Mais de 300 mil visitantes
A secção da enfermaria – onde funcionou um hospital destinado aos "clérigos pobres" da confraria, desde 1754, antes ainda da conclusão das obras, até ao século XX – não se encontra actualmente ainda disponível para ser visitada pelo público, situação que o padre Américo Aguiar diz que será possível alterar no final do próximo ano, terminada que fique a intervenção que irá permitir ao turista fazer "uma visita de 360º" ao edifício, não só em altura mas também aos três pisos do seu corpo principal.
Ao lado da porta que dava entrada para a enfermaria, e é hoje a entrada principal do monumento, encontra-se uma bela imagem de S. Miguel Arcanjo em granito policromado (ao qual, entretanto, roubaram o escudo entalhado que detinha na mão esquerda), "que foi padroeira da Porta do Olival" que existiu ali ao lado, recorda Germano Silva.
A torre continua a ser, contudo, a parte mais procurada por quem visita os Clérigos – até final de Setembro, o número de visitantes tinha já ultrapassado os 300 mil, "mais do dobro do registado em todo o ano passado", salienta o padre Américo Aguiar, sendo de notar que apenas fica registado o número das pessoas que sobem à torre, já que a entrada na igreja é gratuita.
Foi a última secção a ser construída, e, sabe-se agora, correspondeu a uma actualização do programa inicial, que contemplava duas torres na fachada virada para o centro da cidade (há um documento da Irmandade, de 1746, que faz referência a esse projecto).
Erguida em seis pisos, a torre ostenta no primeiro uma imagem de S. Filipe de Nery, e acima dela uma sucessão de elementos decorativos – frontões, fogaréus, festões, monogramas, inscrições latinas e a tiara papal… – e duas secções sineiras, uma delas com um carrilhão de 49 sinos, reputado como "o mais moderno da Europa", e que o padre Américo Aguiar quer pôr a tocar todos os meios-dias.
No seu conjunto, os Clérigos manifestam aquilo que é uma constante da arquitectura de Nicolau Nasoni, realça Manuel Montenegro: "Um uso particular do ornamento, que petrifica elementos da heráldica do cliente e elementos associados à arquitectura efémera", e que vem da formação do pintor-escultor-arquitecto na sua Itália natal.
É assim que o investigador norte-americano Roberto C. Smith viu na torre "a síntese do estilo de Nasoni", e também "uma grande casca vegetal", da qual sai "uma espiga sustentando uma flor". O escritor (e Presidente republicano) Manuel Teixeira Gomes classificou-a como "um círio de fabulosa romaria". E o historiador de arte Paulo Pereira vê nela "uma soberba e faustosa peça de mobiliário, como que um grande ‘estojo’ enunciando um tesouro que ali se encerrasse".
Encerrado na Igreja dos Clérigos continua, por outro lado, o mistério da localização do túmulo de Nicolau Nasoni, que aí foi sepultado, a seu pedido e como "clérigo pobre", em 1773. A Irmandade dos Clérigos já tentou, por mais do que uma vez, identificar os restos mortais do arquitecto, mas sem sucesso.
Também à espera de identificação está um retrato, do acervo da confraria (um conjunto actualmente a ser restaurado pela Universidade Católica do Porto), que é considerado como representando Nasoni, mas não é conhecida nenhuma prova dessa atribuição.
São outras tantas histórias de um monumento que vale a pena visitar e descobrir, mesmo para quem não ousa subir os 240 degraus da sua torre.
Roteiro por uma obra extensa de mais…
Se Nicolau Nasoni é, indiscutivelmente, o arquitecto que marca a imagem do Porto da época barroca, e dá uma expressão nova à euforia do enriquecimento proporcionado pelo ouro do Brasil, a identificação da obra que efectivamente realizou na cidade está ainda por realizar. A ausência de documentação tem sido o principal limite a esse trabalho, sobrando, por isso – e na sequência do levantamento, fundamental, feito por Robert C. Smith na década de 1960 –, uma lista tão exaustiva quanto até difícil de acreditar.
No guia O Porto de Nasoni, que acaba de ser publicado, o historiador Joel Cleto diz mesmo que "é humanamente muito improvável, para não dizer impossível, que o arquitecto italiano tenha produzido tudo aquilo que lhe é atribuído".
Já Manuel Montenegro considera que essa lista exaustiva normalmente atribuída ao italiano é um desafio e "um convite às pessoas a ver e julgar por si próprias, porque não faz mal a ninguém ver boa arquitectura (seja ela de Nasoni ou não)".
Assim, e sem qualquer preocupação de debate nem exaustividade, aqui fica uma lista de obras que justificam essa visita ao barroco de Nasoni, no Porto e arredores.
Na cidade que acolheu o arquitecto italiano, há duas obras fundamentais, que são, de resto, também as mais significativas da sua criação civil: o Palácio e Jardins do Freixo (hoje uma pousada) e a Casa e Jardim da Prelada (hoje propriedade da Santa Casa da Misericórdia, e que irá acolher o arquivo histórico da Confraria dos Clérigos).
Nicolau Nasoni "parece ter querido revelar [no Palácio do Freixo] toda a sua genialidade e satisfazer um capricho das suas capacidades decorativas e arquitectónicas, exprimindo assim um claro sinal de gratidão para com o seu principal mecenas", escreve Joel Cleto, referindo-se à relação privilegiada que o arquitecto italiano manteve com D. Jerónimo de Távora e Noronha Leme e Cernache, proprietário do Freixo.
O complexo da Prelada (propriedade entretanto cortada ao meio pela construção da VCI) mostra também a variedade da arte de Nasoni, que entre a casa e os jardins distribuiu uma série de elementos decorativos – brasões, frontões, fontes, volutas, fogaréus, balaustradas, conchas… –, que, por si só, permitiriam quase estabelecer um dicionário do barroco. (O chafariz e obeliscos da Prelada foram transferidos, no século XX, para o Jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro).
No centro histórico do Porto, para além da sua intervenção inaugural, como pintor, na Sé Catedral, vale a pena ver a Igreja da Misericórdia (principalmente a fachada), e também a capela da Casa dos Maias, ambas na Rua das Flores. Ali perto, a Casa do Despacho e o Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco, o Palácio de São João Novo e a decoração da Casa das Virtudes (Cooperativa Árvore). Noutros lugares do centro histórico, intervenções nas igrejas de Nossa Senhora da Esperança, do Terço, do Carmo e das Carmelitas, e ainda o Paço Episcopal e a Casa do Dr. Domingos Barbosa (actual Casa-Museu Guerra Junqueiro).
Nas zonas periféricas, as casas de Ramalde, de Bonjóia e do Viso; em Gaia, as igrejas de Santa Marinha e do convento de Corpus Christi; em Matosinhos, a Igreja do Bom Jesus, as casas do Chantre, Fafiães e Alão, e as quintas dos Cónegos e de Santa Cruz do Bispo (actual estabelecimento prisional).
Entre esta vasta lista de sins e alguns talvez – e sem ignorar, como salienta o historiador de arte Joaquim Ferreira Alves, o papel desempenhado por arquitectos e mestres-pedreiros portugueses que trabalharam com o italiano, como António Pereira, João Pereira dos Santos e Miguel Francisco da Silva –, resulta por demais evidente a importância que o autor dos Clérigos teve na arquitectura barroca portuense e portuguesa.
Cronologia
1691 Nicolau Nasoni nasce a 2 de Junho em San Giovanni Valdarno, na Toscânia.
1709 Trabalha em Siena como aprendiz de Vincenzo Ferrati (1659-1711), e depois com Giuseppe Nasini (1657-1736), na pintura de abóbadas e frescos, mas também de cenografias para celebrações públicas.
1713 Ingressa na Academia dos Rozzi (Rudes), em Siena, congregação de artistas amadores que trabalham em teatro, festas e outras solenidades públicas.
1722 Parte para a ilha de Malta. Entre os trabalhos desenvolvidos em La Valleta, ao longo de três anos, contam-se as intervenções na catedral de São João Baptista e no Palácio Magistral. Entra em conflito com os artistas locais e com a Inquisição, que não lhe paga os trabalhos.
1725 Chega ao Porto a convite do deão da Sé Catedral, D. Jerónimo de Távora e Noronha Leme e Cernache, irmão de Frei Roque de Távora e Noronha, cavaleiro da Ordem de Malta e vice-chanceler do grão-mestre, D. António Manuel de Vilhena, em La Valleta, que terão aconselhado a contratação deste famoso "pintor de perspectiva". Vem trabalhar nas obras da capela-mor e da sacristia da Sé, até 1733.
1729 Casa com a sua compatriota Isabella Castriotto Ricciardi, que morre no ano seguinte pouco tempo após o parto de um filho.
1730 Volta a casar, no Porto, com Antónia Mascarenhas Malafaia; com ela terá cinco novos filhos.
1732 Colocação da primeira pedra para a Igreja dos Clérigos.
1734 Projecta a galilé da entrada da Sé e risca o Paço Episcopal.
1737 Assina a intervenção na Quinta dos Bispos, em Matosinhos. Pinturas na Sé de Lamego e na Igreja da Cumieira Santa Marta de Penaguião.
1738 Renovação da Igreja do Bom Jesus de Matosinhos; projecta a escadaria do Santuário de Nossa Sra. dos Remédios, em Lamego.
1740 Projecto da Casa de D. Domingos Barbosa (actual Casa-Museu Guerra Junqueiro); é-lhe também atribuído o desenho do corpo central do Palácio de Mateus, em Vila Real.
1742 Início da construção do Palácio do Freixo.
1743 Projecta a Casa e Quinta da Prelada; intervenções nas quintas do Viso e do Chantre (Leça do Balio), e na capela da Quinta da Conceição (Matosinhos).
1745 Restauro da Igreja Paroquial de Santa Marinha, Gaia.
1746 Desenha os tectos e a Casa do Despacho da Ordem Terceira de São Francisco: e também a renovação da Casa de Ramalde.
1748 Fachada da Igreja da Misericórdia.
1750 Faz projectos para a Cadeia da Relação (não realizados).
1754 Intervém na fachada da Igreja de N. Sra. do Carmo, sobre o projecto original do arquitecto José de Figueiredo Seixas.
1756 Intervenção na Igreja da Ordem do Terço.
1759 Projecto para o Palácio de Bonjóia.
1763 Conclusão da Torre dos Clérigos.
1773 Morre a 30 de Agosto, aos 82 anos. "Nicolau Nasoni foi sepultado nesta igreja [dos Clérigos] sendo assistido pela Irmandade como pobre e se lhe fizeram os três ofícios como também o da sepultura" (do arquivo dos Clérigos).
Livros, t-shirts, chocolates e… sabonetes
Os 250 anos da conclusão da Torre dos Clérigos têm vindo a ser pretexto para várias iniciativas editoriais, e não só. O projecto editorial mais ambicioso resultou no grosso volume Porto, a Torre da Cidade nos 250 Anos da Torre dos Clérigos (Edições Afrontamento), com que o historiador Hélder Pacheco se embrenhou no arquivo da Irmandade dos Clérigos, à procura de documentos e explicações para muitas das dúvidas que têm envolvido a construção da principal obra de Nasoni.
Caso diferente é o de O Porto de Nasoni – Guia de Arquitectura e Património, uma edição da Irmandade, assinada pelo historiador e arqueólogo Joel Cleto e com fotografias de Sérgio Jacques. É um bem documentado, e útil, auxiliar para uma visita ao legado de Nasoni no Porto e Grande Porto.
O mesmo registo de guia, mas centrado exclusivamente no complexo do Clérigos, a pensar nos turistas (e traduzido em vários idiomas), é o de Torre dos Clérigos. Uma história de granito, texto de Secundino Cunha e fotografias de Sérgio Freitas (edição Opera Omnia).
Durante este mês sairá A Igreja e a Torre dos Clérigos, uma edição também multilingue (com traduções em espanhol, francês e inglês), de autoria de Francisco Queirós e Beatriz Hierro Lopes.
Até final do ano, sairá um trabalho de investigação de Manuel Montenegro, Nasoni, Arquitecto, que passará a livro a tese Nicolau Nasoni e a Arquitectura Civil, as Villas do Cerco do Porto, realizada por este arquitecto diplomado pelas Universidades do Porto e de Zurique.
Sairá também, até Dezembro, um álbum de fotografia de Luís Ferreira Alves, trabalho que é já conhecido da exposição inicialmente mostrada no Palácio da Bolsa e agora também patente nos Clérigos.
Para o ano ficará o lançamento de Os Clérigos, que o jornalista Germano Silva tem praticamente pronto, mas que espera a actualização de acordo com os resultados da intervenção que vai ser realizada no monumento durante os próximos meses.
Em suma, uma série de novas abordagens à obra de Nasoni, que, no entanto, não dispensam as edições históricas sobre o tema, a principal das quais continua a ser a do investigador norte-americano Robert C. Smith, Nasoni, Arquitecto do Porto (1966). E continuam também a merecer atenção os trabalhos realizados por investigadores e historiadores portugueses, como Artur de Magalhães Basto (Nasoni e a Igreja dos Clérigos, 1950), ou Bernardo Xavier Coutinho (A Igreja e a Irmandade dos Clérigos, 1963), Domingos de Pinho Brandão (Nicolau Nasoni – Vida e Obra de um Grande Artista, 1987), ou Jaime Ferreira-Alves (O Porto na Época dos Almadas. Arquitectura. Obras Públicas, 1988-90).
Mas também há DVD, postais, t-shirts, chávenas, selos e até… chocolates e sabonetes. Sempre com a Torre dos Clérigos em fundo.