Fugas - Viagens

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«Alcatrão»: Quando me deram força nas canetas

Continuámos por umas horas. Íamos ofegando entre gargalhadas, comentando as mulas e as casas abandonadas, os cultivos e os tapetes, toda a solidão do alcatrão, e nisto tive direito à descida mais agradável da minha vida. À entrada de Urla, curvávamos por entre montanhas de moinhos, a temperatura do ar estava perfeita e, ao fundo, um grande lago verde-lima dava-nos as boas-vindas a mais uma cidade. Quando parámos para almoçar, admiti-lhes nunca me ter divertido tanto dando aos pedais. Eles olharam um para o outro, enternecendo-se como se eu fosse um filho aprendendo a pedalar, e tanto carinho espontâneo fez-me admitir não saber o que perco por não fazer isto mais vezes.

Comemos kebab, carne grelhada aos pedaços com tomate picado, salsa e queijo de cabra. Bebemos ayane, um sorvete típico feito de iogurte com agua e sal, néctar refrescante que na Turquia rima com viciante. Rearrancámos, pedalámos a subir e Mercedes voltou a ficar para trás.

Mais uma paragem, desta feita numa bomba de gasolina. Aguardando a chegada dela, comprámos uma barrinha energética, a conselho nutritivo e experiente de Enrique. Quando vamos re-retornar à pista, alguém vem lá de dentro e convida-nos para tomar um chá. Abancamos e oiço Enrique, desta feita em palavras filosóficas:

— De facto, há qualquer coisa nisto das bicicletas que parece atrair o melhor das pessoas. Não sei se é por solidariedade, se é pela nossa atitude humilde, se é pelo caricato da situação ou até por uma subconsciência ecológica... mas as gentes são sempre tão simpáticas quando passamos por elas! Tratam-nos de uma forma especial, parece que sem pensarem nisso apoiam a nossa iniciativa e olha... isso sempre me deu forças para seguir e ir inspirando as gentes enquanto passamos.

Tirei os olhos de Enrique para observar as redondezas. Olhar muito para ver mais ainda. Os rapazes da bomba estavam fascinados com o nosso espírito aventureiro, e um deles, ganhando coragem, ofereceu-nos duas canetas da marca gasolineira: dois pequenos pedaços de plástico encarnado, ninharias que, por valerem tão pouco ali, ganharam um valor simbólico incalculável. Falando mais com o meu Enrique, chegámos a outra conclusão semifilosófica. É que a bicicleta tem mais uma vantagem, que poderá parecer irrisória mas é preponderante para uma jornada bem passada. A bicicleta pára facilmente e quando algo nos capta a atenção não custa travar, não nos desculpamos com o “é tarde de mais” e, acima de tudo, a nossa velocidade média é perfeita para apreciar panoramas e pormenores em tranquilidade essencial, como um cruzeiro em contemplação fluida e entregue à preguiça do tempo.

Viajar é realmente isto. Perceber que o valor do tempo está precisamente em não lhe dar valor nenhum. Ignorar a pressa e os planos, mandar arder relógios e calendários, relaxar e aproveitar os pequenos nadas, como a oferta de uma caneta plastificada com um logótipo qualquer. Viajar verdadeiramente é darmo-nos ao alcatrão e às correntes, sabendo que a viagem tem para nós preparado precisamente o que mais queremos viver. Viajar bem, paradoxalmente, é movermo-nos pouco.

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