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«Alcatrão»: Quando me deram força nas canetas

Então, o que é que faço? Então, o que fazemos? Somos agradáveis, o mais agradáveis que conseguirmos, tão simpáticos como podemos, porque simpatia é quase amor. O que fazemos? Congratulamos sem parar o sabor das castanhas oferecidas, demonstramos interesse por tudo quanto nos circunda, investimos na representação, fazemo-nos actores de músicas ciganas e pomos quem está connosco a sentir-se verdadeiramente especial. Viajar é assim. Aprender a viver, porque viver bem é viver para os outros.

O que faço? O que fazemos? Encontramos lugares familiares, sentimentos universais, como o desprezo pela autoridade, e fazemos pouco dos polícias que passam ao fundo. O que faço? O que fazemos? Rebuscamos outros sentimentos universais, como a preguiça, e brincamos com o gasolineiro georgiano quando ele abastece, pachorrento, o único carro que pára ali no espaço de uma hora e meia. O que faço? O que somos? Somos palhaços se for preciso e oferecemos gargalhadas, bailamos como crianças, alinhando em tudo quanto nos sugerem. O que fazemos? Fazemos groundation: metemos todos ao mesmo nível, ao nível do ground, o nível do chão, o chão que somos, porque de lá viemos e para lá vamos.

O que somos? Somos kanka, naquele caso irmãos-machos e insatisfeitos, juntos no inferno que é a eterna cobiça. Kanka e irmãos unidos na submissão à sensualidade, refugiados na atracção funesta pelo que nunca se poderá ter, ou seja irmãos automáticos vendo modelos na Internet e a babarmo-nos até ficarmos sem cuspo. Falando sobre mulheres e sobre sentimentos universais. Falando sobre sexo, sobre o desejo e sobre a criação de tudo quanto pisa o chão.

E assim se passaram duas horas, regadas com o cheiro fumegante do gasóleo e das castanhas quase queimadas. Ok, Mercedes, vamos embora. Está quase a ficar de noite, e obrigado por esperares com tanta paciência. Realmente, tu sabes viver. Foi bom enquanto durou, é sempre bom quando é duro, e lá vamos nós para a estrada outra vez.

Antes de me re-sentar no selim, presenteio o gasolineiro georgiano com uma nota da Malásia, nada mais do que um pedaço de papel, perdido na minha mochila. Ele abraça-me com tanta paixão que até me fere os ossos e então apetece-me dar-lhe todas as coisas em que alguma vez toquei.

Os viajantes-ciclistas, de tanto pedalarem, conhecerem e voltarem a partir, de tanto se dedicarem às correntes e às mudanças, já se terão habituado à carga dramática que oscila sempre em momentos de separação. Vendo a minha comoção e a comoção de quem vai voltar à monotonia, eles defendem-se com um pouco de sarcasmo:

— Luís... não vais chorar, pois não??

Não. Claro que não. Ainda agora me oferendaram uma caneta. E ela escreve com a força de mil homens.

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