Depois de se passar algum tempo na cidade, e uma semana é o suficiente para isto, apercebemo-nos que reconhecemos as faces das pessoas que frequentam quase todos os dias os mesmos locais. E que ainda não ocorreu um estratificação das classes sociais tão evidente como noutros países mais “desenvolvidos”. Pode-se estar, facilmente, num bar qualquer na baixa de Pristina, quando um dos candidatos à Câmara Municipal de Pristina aparece para beber uma cerveja e não para fazer campanha. Depois, surge o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros com os seus filhos, num passeio de domingo à noite. Podemos importuná-lo, tomar um café com ele e discutir política enquanto vagueamos pelas ruas.
Antes de partir à descoberta da cidade é preciso ter atenção ao caos relativo no que toca aos nomes das ruas. Já mudaram tantas vezes que ninguém sabe ao certo qual é o actual. Onde hoje é a avenida Bill Clinton, antes era a Lenin. Onde foi a avenida Marshal Tito, a principal da cidade, agora é a avenida Madre Teresa. Assistiu-se a um novo crepúsculo dos ídolos. Pode acontecer também a situação de a mesma rua ter três nomes diferentes. Mas não há preocupações, os locais conhecem todas as versões.
“É engraçado ver o efeito que Pristina tem nos turistas, num ponto de vista antropológico – foi o que eu estudei na universidade. Quem vem por um dia, acaba por ficar sempre mais dias, porque a cidade tem tanta vida e querem aprender mais sobre tudo o que se passou aqui. Acho que é uma espécie de imersão informal”, conta a texana de olhos azuis e cabelo loiro, Chelsea. Existe também outra explicação para isto: trabalho. Pristina é uma bolha de emprego para a comunidade internacional. Organizações não governamentais aos molhos, escolas de Inglês, universidades privadas e centros de investigação. Apesar dos salários baixos, quando comparados com outras capitais europeias, Pristina apresenta muitas oportunidades de emprego para curiosos sobre os Balcãs.
No livro de dedicatórias dohostel está escrito: “Vim para ficar duas noites em Pristina. Acabei por ficar três meses e oito noites. Acho que não é necessário dizer mais. Adoro o Kosovo e vocês, Olivie”.
O lugar não-comum
Apesar de nos últimos dois anos a quantidade de turistas ter vindo a aumentar quase exponencialmente, o primeiro gabinete turístico do Kosovo só abriu em Setembro passado, em Pristina. Porém, só tem informação sobre Prizren, a segunda maior cidade do Kosovo. Por isso, é sempre melhor perguntar por sugestões a quem mora na cidade.
Primeira paragem assinalada a caneta azul no mapa: a Biblioteca Nacional do Kosovo. Localizada no meio do campus universitário de Pristina, é um paquiderme grotesco que parece revestido a arame farpado, quando observado à distância. Este monumento da
arquitectura soviética, projectado pelo arquitecto croata Andrija Muttnjakovic, foi inaugurado em 1982. Em 2009, foi classificado como o nono edifício mais feio do mundo, segundo o portal virtualtourist.com.
O edifício está sempre cheio e rodeado de estudantes. Das ciências exactas às letras. Dentro da biblioteca somos transportados para uma nave espacial dos anos 1990, com um piano de cauda na entrada. “É um bom sítio para estar com os amigos e fazer trabalhos de grupo”, conta Besarta Ramadini, estudante universitária em Pristina, num inglês esforçado, sentada num dos bancos do exterior do edifício. “Não existem muitos sítios como este. Como os livros são tão caros, temos muitas vezes de vir aqui”, explica.