Apesar de o Kosovo estar incrustado no meio dos Balcãs, o espírito europeu já penetrou profundamente o país. Principalmente em Pristina. A população jovem veste-se de acordo com as mesmas tendências de Paris, Londres ou Milão. Não faltam saltos altos a desfilar na avenida Madre Teresa e quem os assobie. Pristina é a cidade mais europeia dos Balcãs, sem sombra de dúvidas.
Cada kosovar, um café
É sempre hora de tomar um café no Kosovo. Especialmente em Pristina, onde discotecas e cafés se multiplicam como cogumelos selvagens. A intimidade pública do acto de tomar um café devia estar na lista dos pecados mortais do país, devido à quantidade de vezes que se repete.
Os kosovares passam tanto tempo nas esplanadas que alguns cafés começaram a cobrar uma taxa de 50 cêntimos por cada pedido. “Uma tarde no café, é uma tarde bem passada. Como a maioria da população está desempregada, passam assim os dias”, explica Dalibor Ismali, um kosovar de Pristina, sentado numa esplanada. Dalibor oferece um cigarro ao jornalista, um acto recorrente no convívio dos Balcãs. Se um maço de cigarros estiver em cima da mesa, sirvam-se. É falta de respeito recusar ou ir buscar os próprios ao bolso.
No final da avenida Madre Teresa, a baixa de Pristina, está localizado o Museu de História do Kosovo, mesmo ao lado da sinagoga principal da cidade. Um edifício pintado em tons de amarelo com uma arquitectura imponente. Entre 1945 e 1975, serviu como quartel para as forças militares jugoslavas. O espaço interior encontra-se dividido em duas exposições: no primeiro piso, deparamo-nos com uma mostra arqueológica de objectos encontrados na região. Destes, destaca-se a The Goddess on the Throne (em português, A Deusa no Trono), uma estátua em terracota com menos de 30 centímetros. Pensa-se que esta miniatura tenha mais de 6000 anos.
O segundo piso é dedicado ao conflito de 1998-99. As fotos de Bill Clinton e Tony Blair aparecem num lugar de destaque, logo à entrada. A porta da sala tem pintado o logótipo da NATO. Ao cirandar pelo espaço aberto, encontram-se expostos equipamentos e armas militares, utilizados durante o conflito. Alguns posters informativos – pouco imparciais – sobre o conflito. Um deles destaca-se pelo seu sentido de humor. Milosevic e Adolf Hitler aparecem lado a lado, com a legenda: “Milosevic não inventou o extermínio étnico. Ele teve um bom professor.” Um dos cantos da sala é também dedicado às primeiras páginas do jornal norte-americano New York Times, durante o conflito. A história do Kosovo está escrita na língua do Tio Sam.
O 51.º estado americano
A presença americana no Kosovo é astronómica. E a sua influência também. Um colonato, quase. Tendo tido os EUA um papel crucial no conflito em 1998-99, os cidadãos kosovares mostram-se quase religiosamente devotos à presença americana no país. Sendo assim, ao chegar-se a Pristina não é de estranhar que seja mais fácil encontrar uma bandeira norte-americana que uma do próprio país. Este cenário repete-se pelo resto do Kosovo. Alguns dos principais cafés da cidade têm nome de importantes edifícios americanos, como The Capitol ou White House. O hotel Liberty tem mesmo uma miniatura da Estátua da Liberdade no telhado. A avenida Bill Clinton, uma das principais da cidade, tem até direito a uma estátua do próprio ex-Presidente norte-americano, sorridente a acenar aos transeuntes.