Classificado como Imóvel de Interesse Público, o Castelo de D. Dinis, como é conhecido — por ter sido este rei que, no século XIV o dotou da fortaleza que hoje ostenta — funcionou como Pousada de Portugal durante vários anos, até ter encerrado. A reconversão do espaço em pousada, em 1982, valeu ao arquitecto Alcino Soutinho o prémio Europa Nostra, mas em 2009 o espaço fechava portas e, dois anos depois, o grupo Pestana confirmava o seu encerramento definitivo, e entregava todo o património à Direcção-Geral do Tesouro e das Finanças.
A Câmara de Vila Nova de Cerveira não desistiu ainda de ficar com o castelo da cidade e tem organizado lá vários eventos — hoje, por exemplo, a partir das 22h30, há uma festa de Carnaval, de entrada gratuita —, na tentativa de o recuperar para os moradores. E ele bem precisa de uma nova vida, como se percebe quando espreitamos para o interior dos antigos quartos da pousada e nos deparamos com carpetes a apodrecer, cortinas onde já há manchas de caruncho ou lixo amontoado junto aos móveis.
Ainda assim, vale a pena passear pelos caminhos do castelo. Ver o pelourinho classificado como Monumento Nacional desde 1910, e que se encontra em frente à antiga cadeia e Paços do Concelho. Subir às muralhas e apreciar a vista em redor. Com sorte, talvez consiga espreitar também a Igreja da Misericórdia, no interior do castelo. Para isso, é preciso que lá vá ao domingo, altura em que as portas do templo se abrem para uma missa ao meio-dia.
Regressamos lá no domingo, quando a manhã ainda vai a meio, e somos atraídos pelo som da música que vem do interior da igreja. Experimentamos a porta e uma mulher de cabelos brancos faz-nos sinal para que entremos. A construção do século XVII tem um interior luminoso e cheio de cor. O tecto em madeira está pintado em tons de azul e junto ao altar não faltam exemplares de talha dourada e prateada. É uma pena a igreja estar quase sempre fechada.
No dia do passeio guiado por Marina e Bruno, regressamos ao hotel já sem a luz do sol. Já não é possível ver os montes que cercam a vila por quase todos os lados ou o rio que banha as suas margens. Pensamos em todas as freguesias que não espreitamos e nas coisas que só descobrimos porque alguém nos guiou pela mão. Nas obras de arte da Bienal que ficaram na vila e hoje decoram vários dos seus pontos e que só conseguimos ver de fugida. E pensamos que isto é terra de segredos bem guardados. E que não fazia mal nenhum se eles deixassem de ser segredo e se tornassem ponto de visita obrigatório para todos os que por lá passam.
O Hotel Minho reinventou-se e parece saído de um país nórdico
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A Fugas esteve alojada a convite do Hotel Minho