Fugas - Viagens

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Amazónia, a banda larga da natureza

Dentro da Amazónia, é mais fácil vibrar com a exuberância da flora — estão classificadas mais de 40 mil espécies de plantas, apesar de os solos serem pobres. “Uma árvore com uma copa de dois metros de diâmetro produz 300 litros de água em 24 horas”, diz Mateus, antes de encontrar a fabulosa paxiúba, a “árvore caminhante”, que tem várias raízes e muda de lugar. O guia cala-se, aproxima-se da árvore e raspa um pouco do tronco. Dá-nos a cheirar. “Chanel n.º 5”, diz a rir. E é mesmo. É o pau-rosa, de onde foi extraída a substância que está na fórmula do perfume, hoje feito de forma sintética.

Antes do fim do trilho, ainda vemos a árvore estranguladora (que se enrola noutra árvore), a cumaru (uma gigantesca árvore cuja madeira foi muito usada na construção naval), uma enorme castanheira (que pode atingir 55 metros de altura e viver 1200 anos) e a sorva (uma árvore que tem um látex doce, que os índios usavam para mascar). Acabou-se o trilho e regressamos ao barco. Mateus olha para o céu e sentencia: “Vai chover.” Minutos depois, confirma-se a profecia.

Nadar sem jacarés

A chuva (ou chamemos-lhe antes dilúvio amazónico) cancelou a pescaria agendada. Perdeu-se o peixe, ganhou-se tempo para nadar no rio Juma, um afluente do rio Madeira, o tal por onde andou Ferreira de Castro nos seringais. Mateus garantiu que àquela hora e naquele sítio (em frente ao cais do hotel de selva Juma Lodge) não havia jacarés nem piranhas. Acreditámos e mergulhámos no imenso rio, que mais parece um lago. A água era quente, a paisagem em redor deslumbrante e a desconexão com o mundo torna-se total.

O sentimento anti-stress estende-se depois, com um passeio de canoa. Sem motores no barco, é possível apreciar a Amazónia em toda a sua dimensão. Entra-se pelos igarapés (braços do rio) no meio de árvores submersas e fica-se em total conectividade com a natureza. Nós e a natureza, num diálogo visual: as árvores espelhadas na água, a canoa a deslizar suavemente, os papagaios a voar, o barulho de uma iguana a mergulhar, o canto alegre dos sapos a anunciar a chuva nocturna. Às seis da tarde, conta Mateus, canta a cigarra e é assim que os índios sabem as horas.

O final de tarde é algo espantoso na selva. Nada como o sentir deitado na rede que os índios usam em vez da cama. A brisa suave traz a temperatura perfeita, o céu vai mudando de cor. Não se avista o pôr do sol na plenitude, porque o horizonte é feito de árvores, mas o espectáculo de cores é irresistível.

Quando cai a noite, há dois planos possíveis: descansar ou fazer algumas das típicas actividades dos hotéis de selva, como caminhadas nocturnas, dormir no meio da floresta ou ir à procura de jacarés. No caso, saímos de lancha em busca dos répteis. Mateus, o guia, de calções e chinelos, segue na proa, de lanterna em riste. Quando o rio sobe, é mais difícil ver os jacarés. E já estamos em plena época de chuvas. É então que Mateus avista um, mas o jacaré escapa-se. Perante a dificuldade, o guia aproxima-se da margem do rio e põe os pés na água. É preciso coragem. Baixa-se e recolhe dois jacarés-tinga bebés. São bem pequenos. Quem lhes pega sente-lhes o coração. Após as fotos da praxe, são devolvidos à natureza.

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