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    Adriana Calcanhotto Joana Bourgard
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    Jardim Botânico Pedro Cunha
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    Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro Rui Gaudêncio
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    No RS, de Roberta Sudbrack DR/twitter.com/RobertaSudbrack

O Rio de Janeiro por Adriana Calcanhotto

Por Adriana Calcanhotto

Directora por um dia do PÚBLICO (a 5 de Março, dia de aniversário do jornal), a cantora brasileira guia-nos agora até as seus lugares favoritos do Rio, cidade onde vive.

1.
Museu do Açude

Tem várias instalações permanentes de artistas como Hélio Oiticica, Lygia Pape, Iole de Freitas, Nuno Ramos e outros, a convite do museu, continuam criando para o jardim, que é enorme. A casa pertencia a um bon vivant, Raymundo Castro Maya (1894-1968), que dava festas enormes, tinha vários jogos de louças da Companhia das Índias – parte desse acervo de louças, panelas de cobre e móveis estão em exposição dentro da casa principal.
A obra de Oiticica é a mesma que foi erguida em Inhotim anos mais tarde. Hélio deixou apenas as instruções mas nunca determinou que fosse ao ar livre. Em Inhotim é bonito, claro, mas está em lugar muito aberto. No Rio, no Museu do Açude, a obra está literalmente incrustada na mata atlântica, em parte do terreno onde os cavalos faziam exercícios e manobras. O facto de a instalação não estar no museu, entre paredes brancas, ajuda a revelar que é uma obra sobre o tempo, porque a luz vai mudando de lugar e uma cor vai reflectindo na outra enquanto líquen, musgo e matéria orgânica seguem seu destino sobre aquelas paredes coloridas tornando a obra viva.

2.
RS, restaurante da chefe Roberta Sudbrack

Um génio da gastronomia, autodidacta, que, quando criança, ia na geladeira e separava as folhas de alface ficando só com as bem pequenas e tenras e jogando as maiores no lixo. Em casa todos achavam a criança esquisita por isso. Mais tarde mudou-se para Brasília (nasceu no Rio Grande do Sul) e lá abriu um carrinho de cachorro quente, que foi fazendo muito sucesso. Conseguiu então começar a fazer jantares em casas de pessoas de posses até que, num jantar desses, entre os convivas estavam Fernando Henrique Cardoso, então presidente do Brasil e dona Ruth, a primeira-dama, que era uma mulher impecável, inteligente, discreta, chique de verdade. O casal ficou louco por sua comida e assim ela foi parar na cozinha do Palácio da Alvorada, que era composta de cozinheiros do exército que usavam alimentos enlatados, maizena, enfim, faziam comida de pelotão. Pois ela pacientemente jogou toda a despensa fora, formou aquela equipa, ensinou o valor dos alimentos frescos, dos ingredientes, revolucionou a mentalidade vigente ali, organizou uma horta e cozinhou para Fidel Castro, o príncipe Carlos e dezenas de chefes de estado. Agora tem o RS, o restaurante de onde é impossível sair insatisfeito. Às sextas-feiras abre também para o almoço. Imperdível.

3.
Teatro Rival

Completa este ano 80 anos. Foi inaugurado a 22 de Março de 1934, no centro da cidade, e apresentava principalmente o popular género “teatro de revista”, um sucesso na época. Passado de pai para filha, a actriz Ângela Leal, que o revitalizou na década de 1980, continua hoje suas actividades com sua filha à frente, a também talentosíssima actriz Leandra Leal. Apresentam-se artistas de diferentes estilos, grandes nomes e principiantes, nos quais a casa tem a tradição de apostar. É um espaço de resistência cultural, que passou por momentos difíceis sem nunca perder a identidade, um enorme feito num país onde os antigos teatros estão sumindo, comprados pelas igrejas evangélicas e afins. Nem o Canecão, palco mítico por onde passou grande e importante parte da história da música popular brasileira, conseguiu sobreviver, não existe mais, e lá está o Rival, firme e forte como sempre foi.

4.
MAM

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que vale a visita primeiro pela sua arquitectura. Também pelo entorno do prédio, de onde se podem ver os barcos atracados na Marina da Glória, os prédios antigos do outro lado e o jardim. Para além das importantes exposições, aquele é um lugar que foi palco de grandes acontecimentos, performances e debates artísticos produzidos pelos artistas e poetas mais inquietos, no sentido daquilo que já usou-se chamar de vanguarda, e que hoje não serve para nomear nada além de uma linha de frente de um pelotão militar. Por ali fervilhou o movimento neo-concreto com Hélio Oiticica, Lygia Pape, Lygia Clark, o poeta Ferreira Gullar fez as suas tropelias e muitos outros artistas deixaram a sua marca experimental. É um lugar lindo e que guarda essa energia deixada lá pelos artistas que gostam de saltar sem rede.

5.
Jardim Botânico

Foi criado por decreto real a 13 de Junho de 1808, por D. João VI, ainda na condição de príncipe regente. Primeiramente com intuito apenas científico, hoje, além do instituto de pesquisas, abriga em seus 54 hectares, entre as áreas ao ar livre e as estufas, enorme diversidade de espécies da flora, tanto brasileira como de várias partes do mundo, e está aberto a visitas. Tem uma biblioteca com milhares de livros, alguns raros. Em 1997, o genial designer de jóias brasileiro António Bernardo adoptou como mantenedor [patrocinador] o orquidário do Jardim Botânico, que realiza exposições com filas enormes de visitantes. Recebe visitantes ilustres de todas as partes do planeta, como a Rainha Isabel II, e era um dos lugares onde podia ver-se Tom Jobim ou o poeta Waly Salomão a andar, em suas visitas diárias ao paraíso plantado na zona sul da cidade, no bairro a que empresta o seu nome. Ali dentro funciona também o Instituto Tom Jobim, com uma sala de espectáculos, espaço de exposições e um galpão, fotos e um piano do compositor, e um café muito simpático.

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