Fugas - Viagens

Quinta da Boavista - Chuva de estrelas | Foto: Alexandra Prado Coelho (iPhone)

Quinta da Boavista - Chuva de estrelas | Foto: Alexandra Prado Coelho (iPhone)

O Rio de Janeiro são mil cidades

Por Alexandra Prado Coelho

Uma rota pelo Rio que propõe ideias para dois ou três dias, para prolongar por cinco ou sete, para viver em dez ou em quanto tempo quiser. São os mundos do Rio, para viver ao tempo de cada um. Que o Rio são mil cidades.

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É possível num dia fazer uma viagem ao passado por entre as altissimas paredes, o silêncio reverente e as lombadas vetustas (que outra palavra poderíamos usar aqui se não esta?) dos livros do Real Gabinete de Leitura (www.realgabinete.com.br/), no Centro, depois de um pequeno-almoço completo, com chá, torradas, doce, bolos e guardanapos de monograma na Confeitaria Colombo (www.confeitariacolombo.com.br/).

E, uma hora depois, estarmos a atravessar as caóticas ruas do Saara, o grande mercado de bugigangas baratas, por entre flores de plástico de todas as cores, máscaras de Carnaval e uma voz lançada por um altifalante prometendo-nos preços sempre mais baixos e artigos sempre mais irresistíveis, para por fim descansarmos a vista (e os ouvidos) por entre os anjos da Igreja da Candelária (ou, mais tarde, os da pequena igreja do pacato bairro da Urca).

Mas há mais. Se num dia nos perdemos por entre a alameda de palmeiras do Jardim Botânico (www.jbrj.gov.br/institu.htm) e encontramos uma menina com coroa e vestido de princesa no pavilhão das orquídeas (e outras meninas, mais velhas, a serem filmadas para vídeos nos quais atiram beijos atrevidos à câmara), noutro descobrimos a imensa variedade de plantas que o arquitecto paisagista Burle Marx (1909-1994) fez crescer nos jardins da sua casa, muitas das quais trazidas de zonas do Brasil de vegetação até então por explorar (http://sitioburlemarx.blogspot.com/).

E à noite, para recuperar, nada como o salsichão com salada de batata especialidade do Bar Lagoa (http://www.barlagoa.com.br/), ali à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, exactamente no mesmo lugar onde nasceu em 1934 (na altura tinha já o mesmo estilo art deco e o mármore de Carrara nas paredes mas um outro nome, Bar Berlim, e era propriedade de um casal de alemães).

Conta Ruy Castro em "Ela é Carioca", que era então, antes da guerra, local predilecto das velhas famílias alemãs de Ipanema que ali iam ouvir o quarteto de cordas tocar valsas vienenses, e comer o salsichão servido pelos empregados de mau-humor já mítico.

Podemos por fim planear uma visita ao Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista (www.museunacional.ufrj.br/), que nos promete os maiores acervos científicos da América Latina, e passar uma tarde entre múmias egípcias ou de povos indígenas, vasos gregos e esqueletos de dinossauros (e até um meteorito), enquanto lá fora os enormes jardins do que foi em tempos a residência da família imperial se enchem de uma multidão de envangélicos que vêm ouvir um concerto de gospel.

E o dia acaba com um passeio de canoa no lago da Quinta, enquanto um helicóptero lança sobre nós uma chuva de papelinhos cintilantes, como se no céu explodissem de repente milhões de pequeninas estrelas que vêm depois pousar serenamente sobre a relva, a água, as árvores, e as nossas cabeças.

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