Tânia Serrazina, 25 anos, queria regressar à Arménia e a ideia não lhe saiu da cabeça nos últimos dois anos. Apaixonou-se pelo país do qual nada sabia até lá ter trabalhado durante um ano como voluntária num jardim zoológico, pelo país onde teve de aprender um alfabeto diferente, uma nova língua, uma nova cultura. “Nunca tinha tido o choque completo de ter de aprender tudo de novo e acho que isso dá um autoconhecimento e um conhecimento espectacular da cultura em que se está, houve uma conexão muito grande”, conta.
Foi “tão especial” que um regresso não caberia numa estadia de uma semana com ida e volta de avião. Seriam demasiadas emoções libertadas na pílula rápida de uma viagem turística. Tinha de ser, explica, “uma coisa mais interiorizada”, o culminar de uma nova aventura. Como já tinha descido ao longo do Danúbio de bicicleta - “uma das melhores formas de viajar” - repetiria a experiência, agora até ao sul do Cáucaso.
Tânia já estava decidida a ir sozinha quando José Penas disse que ia com ela. A seguir, o primo, André Serrazina, disse que os acompanharia até à Alemanha, onde iria ter com a namorada, Natalina Bordino, mas ela trocou-lhe as voltas e juntou-se à viagem. Três semanas antes da partida, Joel Ramos e Rui Valbom, colegas de trabalho de André, “lembraram-se que também queriam ir”.
“Quando ouvi a história, pensei «isto é brutalmente estúpido, então quero participar»”, atira Joel Ramos numa conversa animada, onde apenas não estiveram presentes José Penas e Natalina Bordino. “A verdade é que cada um tem a sua história nesta coisa, porque também não é de ânimo leve que se conseguem seis meses livres sem trabalhar”, confessa André Serrazina. A quase todos a viagem serve de escape a uma encruzilhada profissional, uns descontentes com o emprego actual, outros com o passo seguinte por definir. E é assim que do sonho de uma pessoa se chega a uma viagem de seis.
Tânia, André e José partiram da Benedita, terra natal dos três, a 22 de Fevereiro. Joel e Rui, quatro dias depois, juntaram-se ao grupo. Natalina – a única estrangeira mas que “fala português perfeitamente” – reúne-se aos portugueses em Munique. Um périplo de bicicleta que servirá também para alertar para o perigo de extinção dos leopardos do Cáucaso, região onde terminará a viagem. “A estimativa é existirem entre 850 a 1300 leopardos naquela zona”, indica Tânia, licenciada em biologia, relembrando que o fecho das fronteiras está a fazer com que “as populações acabem por ficar muito divididas, o que é mau em termos genéticos pois não há cruzamento”.
Da Benedita ao Cáucaso serão sete mil quilómetros, pedalados ao longo de quatro meses. Por esta altura já estarão a subir os Alpes italianos, uma das zonas que aguardavam com maior expectativa. De seguida, Áustria, Alemanha e República Checa. “Depois começa a nossa incógnita, ainda não decidimos se fazemos Hungria-Sérvia ou Roménia-Bulgária, sabemos que vamos até Istambul e que a Turquia e a Arménia têm a fronteira fechada por isso temos de subir à Geórgia”, explica André.