Tal como manda a tradição, são as mulheres que colhem o fruto da arganeira, também conhecida como árvore da vida — o recurso às cabras de cujos dejectos eram retiradas as nozes foi afastado uma vez que deixava, explicam-nos, um odor desagradável. Assim, o fruto é recolhido e de dentro dele retirada a semente, a qual se torra para depois extrair o óleo numa mó de pedra, num processo que se distingue por ser moroso. A extracção de um só litro de óleo pode levar até 24 horas de trabalho que, embora possa não parecer, se revela muito duro.
Enquanto observo o processo, uma das mulheres vai esfregando uma mão na outra, elevando-as ao nível do peito ao mesmo tempo que não consegue disfarçar um esgar de dor. Mas o trabalho compensa: “A forma artesanal é a melhor maneira de retirar o máximo do pequeno grão”, rico em ómega 6 e vitamina E. Além destas propriedades, sabe-se que o óleo de argão contém esteróis vegetais, elemento que, além de melhorar o metabolismo da pele, combate o colesterol.
Por isso, as prateleiras da cooperativa dividem-se entre a cosmética e a saúde, não descurando nos produtos de higiene (sabonetes, champô, etc.) que incluem entre as suas fórmulas o precioso ingrediente. Há ainda o óleo de argão pronto a temperar uma salada ou a integrar uma receita mais ou menos elaborada.
Os segredos berberes vão para lá do óleo. Em Tazenakht, são os tapetes que atraem as atenções. No Espace Zoukouni (Av. Hassan II, 96), cada tapete que se pode ver pendurado pelo recinto equivale a meses de trabalho. Pelos teares, no andar superior, outros vão ganhando forma. E à nossa volta, enquanto nos recebem com um chá de menta à boa maneira local, vão-nos estendendo vários tapetes de distintas cores e motivos. O azul, dizem-nos, dá sorte e serve para usar à entrada de casa. Já o verde, a cor do Islão, é usado nas orações e o castanho, cor do deserto e da natureza que nos rodeia, tem múltiplas funções.
Mas o que mais gera conversa é o vermelho, o tapete dos enamorados. Estes tapetes, relatam os nossos anfitriões, são como “as vossas alianças”. São trocados pelo casamento: ele manda-o fazer; ela dedica meses à sua confecção. Uma primeira prova de dedicação e resiliência, mas também uma amostra do futuro. No tapete, a noiva coloca os motivos que representam os seus desejos: sejam eles de harmonia, de paz ou de muitos filhos.
Viver o kasbah
O kasbah, estrutura que vamos encontrando cada vez mais à medida que penetramos pelo centro interior do país, é uma espécie de casa fortificada de origem berbere, caracterizada por uma torre em cada um dos seus quatro cantos. Além de servir para proteger os habitantes e os animais em caso de intempéries, proporcionava uma posição de vantagem defensiva que não era de desprezar.
O seu expoente pode ser encontrado na cidade fortificada de Aït-Ben-Haddou, formada por vários kasbah na margem do rio Ounila, Património Mundial da UNESCO desde 1987, e cujos recortes nos remetem para filmes como Gladiador, A Múmia ou o eterno Lawrence da Arábia, indicando-nos que estamos cada vez mais perto da Hollywood marroquina, Ouarzazate. E será nesta cidade que se encontrará o mais emblemático kasbah: Taourirt, o palácio-fortaleza do paxá El Glaoui, construído no século XVIII e o segundo mais bem preservado do país.