Além da imponência da sua estrutura, o kasbah de Taourirt fascina também pela sua História. Era esta a residência dos Glaoui, o clã que controlava o acesso ao Médio Atlas e ainda se consegue através da sua arquitectura compreender esses tempos. Como o caso da pequeníssima porta por onde quem visitava o paxá tinha de entrar. A razão não poderia ser mais simples: todos tinham de se curvar perante o soberano e essa entrada não deixava alternativa a ninguém. Outra característica que não deixa ninguém indiferente é a forma labiríntica como as várias salas estão organizadas: sobem-se três degraus para logo de seguida se descerem quatro; depois sobem-se mais dois.
Mas não é só pelo interior de Marrocos que se podem encontrar os kasbahs. Em Agadir, com o mar a perder de vista aos nossos pés, as ruínas do kasbah erguido para manter afastados os invasores, nomeadamente os portugueses, continua a ser um local de romarias. Sobretudo pela vista privilegiada sobre a cidade.
Agadir balnear
Em Agadir a fortificação serviu para que o sucessor de Mohammed Ech-Cheikh, o xerife que conseguiu a retirada portuguesa da região, depois de 36 anos de disputas violentas com as tribos locais, conseguisse um maior controlo sobre as terras à sua volta e sobre o mar. Enquanto uma mão-cheia de turistas vai percorrendo o caminho empedrado e irregular, no porto de pesca vive-se um burburinho incessante: a azáfama da faina, os molhos e molhos de redes, as caixas a transbordar de peixe — nesta altura, sobretudo de sardinhas e cavalas.
Ao longo do paredão, multiplicam-se os negócios: há compra e venda de peixe fresco, petiscos aromáticos para saciar a fome a quem passa, guelras aqui e ali que não são deixadas ao abandono pela gataria. E, não podia deixar de ser, assadores que nos fazem lembrar que as festas populares que se vivem por Portugal ao início do Verão.
Mas não é pelo peixe que o mar de Agadir é mais procurado. A cidade, acariciada pelo Alto Atlas e protegida dos ventos do Sara pelo Anti-Atlas, beneficia de uma espécie de microclima que a faz viver uma época balnear constante. É que, mesmo no pico do Inverno, raras são as vezes em que as temperaturas descem ao ponto de fazer frio. Depois, sublinhe-se, Agadir cresceu em torno de uma baía. O facto faz com que as suas praias sejam protegidas face à agrura do Atlântico e as águas cristalinas permitem longos e descontraídos banhos. Por isso, não é de admirar que a hotelaria tenha invadido a cidade, cuja construção está longe de uma estrutura tradicional, consequência directa do terramoto de 1960 que praticamente engoliu a cidade, provocando a morte a cerca de 20 mil pessoas.
E há hotéis para todos os gostos. Como o RIU Tikida Palace, onde nos sentimos numa espécie de cruzeiro de luxo, com tudo incluído como é apanágio das viagens marítimas, divertimentos 24 horas por dia, assim como restaurante aberto praticamente a toda a hora. Depois, está-se a uns minutos a pé da agitação da cidade, ao mesmo tempo que a praia se desenha mesmo à frente dos nossos olhos. Só resta decidir: ficar pela vasta piscina ou dar dois passos e mergulhar no Atlântico. Ou ainda fazer uma incursão ao spa e experimentar o hammam (banho turco), seguido de esfoliação com sabão preto (de azeite) — uma prática muito comum entre marroquinos e não só. “Faço-o pelo menos uma vez por semana”, diz-nos Rafael, assistente da direcção do RIU Tikida Palace. A experiência, confesse-se, chega a ser desagradável pela brusquidão da esfoliação. Mas o resultado é uma pele de bebé durante as semanas que se seguem.