Fugas - Viagens

  • Rui Gaudêncio

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A que sabe Lisboa?

Filipa guia-nos já para o interior da Mouraria, com paragem prevista no Zé da Mouraria para uma carne de porco no alguidar, com batatas fritas às rodelas, uma dose (demasiado) generosa para quem sabe que ainda há outros petiscos pelo caminho. Nem sempre é fácil, diz a nossa guia, explicar nos restaurantes o conceito desta food tour. Os proprietários dos estabelecimentos não gostam da ideia de servir pequenos pratinhos, por receio de ver os visitantes partir com fome, e por vezes apresentam quase refeições completas, quando a ideia é apenas ir provando as diferentes especialidades.

Mais meia dúzia de passos e é altura de visitar a ginginha do senhor António, na Tasca Os Amigos da Severa, casa típica, onde se canta fado, se dá dois dedos de conversa com o dono, sempre atrás do balcão, de manhã até à madrugada, e se bebe uma ginginha de receita própria e que deve ser tomada fresca. É na Rua do Capelão, ao lado da casa da Severa e, claro, o sítio certo para se falar desta figura e de outras personagens míticas do universo do fado, como Fernando Maurício, que também ali viveu.

E da ginginha seguimos para algo completamente diferente, exemplo da tal Lisboa multicultural de que tínhamos falado lá em baixo no Martim Moniz: o Aziz, na apertadinha Rua das Farinhas, uma paragem para beber uma cerveja, comer uma chamuça e explicar de onde vem esta mistura de culturas e comidas tão presente nesta zona da cidade.

Já ficávamos por aqui à conversa em torno das chamuças e das cervejas, mas o percurso está marcado e esperam-nos à hora certa (uma das coisas mais importantes, confessa Filipa, é conseguir que o grupo mantenha o ritmo, que prevê a chegada a cada paragem a uma hora determinada) no restaurante O Trigueirinho, no Largo dos Trigueiros, com um bife de atum de cebolada e vinho verde — pretexto para falar deste tipo de vinho (embora Filipa sublinhe que não entra em muitos detalhes quando de trata do mais complexo universo dos vinhos) e do peixe.

E porque este é um bairro lisboeta, e a fotógrafa Camilla Watson tem o seu atelier precisamente neste largo, há um daqueles encontros de vizinhos, com ela a convidar-nos para visitar o atelier e conhecer melhor o trabalho que faz com as imagens dos idosos da zona, que espalhou pelas ruas em redor — e nós a agradecer mas a termos que recusar porque estamos já perto da hora de terminar o passeio e não queremos atrasar-nos.

E depois de tanto lugar tradicional, com Filipa a explicar o espírito destes bairros lisboetas, terminamos num espaço novo, o restaurante Leopold, na Rua de São Cristóvão, uma antiga padaria recuperada por Ana e Tiago Feio, antigo sub-chef do Largo, que aqui, sem exaustor nem fogão, faz uma cozinha muito especial, usando a imaginação para contornar as limitações. Filipa pediu-lhe uma sobremesa de colher e ele prepara algo de surpreendente, que não vamos revelar aqui para não estragar a surpresa.

Nota: o percurso que a Fugas fez com a Taste of Lisboa já sofreu alterações, alguns dos locais de paragem foram substituídos por outros. Por exemplo, em vez do Zé da Mouraria, para-se agora no Zé dos Cornos para uma prova de queijos e uma bifana 

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