Fugas - Viagens

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Nova Iorque para principiantes (que viram uns filmes)

A cidade que nunca dorme é o epíteto mais usado e vazio para falar de NY. Sinatra imortalizou-o num verso de New York, New York (I want to wake up in a city that doesn’t sleep). O tempo em Nova Iorque é contínuo, o movimento dos dias e das noites é circular. Mas quando na madrugada seguinte, atordoados pelo jet-lag, ouvimos as sirenes e o ruído da noite, aquilo que era uma frase vazia volta a ter conteúdo. Os néons ainda estão acesos, sempre acesos, e os táxis ficam de um amarelo intenso, quase fluorescente. É um amarelo diferente daquele que têm durante o dia, quando adquirem uma tonalidade laranja sob o sol das duas da tarde. À noite, oyellow cab é uma força luminosa que atravessa a noite, urgente e gritante.

Pode ser que em ruas imundas, em bairros que fedem, no submundo que fica não se sabe bem onde, os táxis da madrugada sejam como aquele que De Niro conduzia no filme de Scorsese de 1976. Pode ser que nos meandros da noite se encontrem Travis Bickle, de músculos de aço, a ensaiar a rapidez ao espelho e a dizer:“You talking to me?” como quem dispara um gatilho. Pode ser. Às quatro da manhã.

Às quatro da tarde os táxis são conduzidos por homens vindos do Bangladesh, Bulgária, Índia, Paquistão. Há sempre um separador de acrílico entre o taxista e o passageiro, e nessa parede que delimita o espaço há uma pequena televisão e um terminal de multibanco.

Nunca se vêem prostitutas como aquela que Jodie Foster interpretou quando era adolescente.

O Grande Amor da Minha Vida

Pode-se começar a sonhar com o Empire State Building em dois filmes. No clássico An Affair to Remember, que em português se chama O Grande Amor da Minha Vida (1957), e no filme que declina o clássico protagonizado por Meg Ryan e Tom Hanks, Sleepless in Seattle (Sintonia de Amor, 1993). O que há nos dois? Uma paixão de fazer chorar as pedras da calçada, desencontro de amantes, impossibilidades de diversa ordem (ou são comprometidos ou vivem em pontas opostas do mapa) — e o Empire State, esse colosso que se vê de todo o lado e de onde se vê todo o lado.

Talvez a aura romântica do edifício advenha do amor impossível de Cary Grant e Deborah Kerr. Talvez tenha sido propagado, junto de outra geração, com o filme de Nora Ephron.

Sonha-se com o Empire State como se sonha com o grande amor da nossa vida. Mais as mulheres do que os homens. Eles a fazer de conta que este barroco sentimental lhes dá urticária. Todos no topo do mundo a olhar o mundo.

A vista é absolutamente divina. Se se estivesse no céu, não seria diferente. O Empire State é tão alto que, em dias nublados, as nuvens parecem no chão. Tão alto que é possível descobrir a partir dele toda a geografia de Manhattan, o quadriculado rigoroso das ruas, identificar o Soho a sul, Harlem a norte, os quilómetros de avenida que unem os dois extremos da ilha, os quilómetros de ruas que as cruzam na perpendicular, o espaço onde até 2001 existiam as Torres Gémeas e onde agora está o edifício de Daniel Libeskind.

Demora-se minutos a subir os 102 andares, e com sorte não se demoram horas na fila de espera. Pode-se subir até às duas da manhã. A melhor hora é ao pôr do sol.

O Pecado Mora ao Lado

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