Fugas - Viagens

  • Miguel Nogueira
  • Miguel Nogueira
  • Miguel Nogueira
  • O eucalipto de Sátão
    O eucalipto de Sátão Miguel Nogueira
  • O castanheiro de Tresminas
    O castanheiro de Tresminas Miguel Nogueira
  • O carvalho-alvarinho da Póvoa de Lanhoso
    O carvalho-alvarinho da Póvoa de Lanhoso Miguel Nogueira
  • O Plátano da Quinta da Fôja, Santana, Figueira da Foz
    O Plátano da Quinta da Fôja, Santana, Figueira da Foz Miguel Nogueira
  • As formas excêntricas do pinheiro-bravo da Mata Nacional de Leiria
    As formas excêntricas do pinheiro-bravo da Mata Nacional de Leiria Miguel Nogueira
  • A alameda de freixos de São Salvador da Aramanha
    A alameda de freixos de São Salvador da Aramanha Miguel Nogueira
  • O plátano da Quinta da Fôja
    O plátano da Quinta da Fôja Miguel Nogueira
  • A oliveira milenar de Serpa;
    A oliveira milenar de Serpa; Miguel Nogueira
  • A alfarrobeira de Moncarapacho
    A alfarrobeira de Moncarapacho Miguel Nogueira

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Os monumentos vivos de Portugal

“Há ali um cruzamento onde há muitas [alfarrobeiras], quando há ventinho o cheiro é inconfundível... Agora com 600 anos, não conheço.” Na recepção do Hotel Colina Verde, em Moncarapacho (Olhão), são vários os funcionários que nos tentam ajudar, mas o desconhecimento, mesmo entre os que são da terra, fala mais alto. “As pessoas daqui não dão muita importância”, dirá José Martins Dias, o proprietário da quinta onde encontramos a alfarrobeira (Ceratonia siliqua L.) de 600 anos, a maior referenciada no nosso país — “por exemplo, há uma praia ali na Fuseta com bandeira azul e ninguém sabe”. Os primeiros que a vieram ver foram japoneses, há dez anos, recorda. De então para cá, vão aparecendo algumas pessoas, de vez em quando, e um dia veio até um grupo grande de Portimão, de uma associação relacionada com árvores. “Creio que a antiguidade, a pequenez do homem perante ela, criam uma sensação especial. O homem não está habituado a isso, somos sempre grandes. E quando olhamos para uma coisa viva faz-nos pensar, não é um castelo, imóvel.”

Não é um castelo mas parece uma catedral, este gigante benigno, que continua a dar fruto e sombra mais do que abundante: a sua copa é alta e ampla, os seus ramos vêm até cá baixo e parece mesmo que entramos num espaço fechado. Fechado mesmo é o tronco, largo e oco, onde o pai de José conseguiu uma vez enfiar 10 ou 11 jovens. “Ali dentro está muito mais fresquinho”, brinca José Dias, que já imaginou histórias em que alguém entra na árvore e ela se fecha, num abraço apaixonado. Claro que brincava ali quando era miúdo e recorda-se de pessoas que ali dormiam — agora, a alfarrobeira é o lar de um casal de ginetas, conta.

A alfarrobeira por estes dias é um gigante num pomar de laranjeiras onde se encontram ainda outras dez ou 15 alfarrobeiras “mais novinhas”. Antes havia amendoeiras, oliveiras. “Quando fiz este projecto, queriam que só tivesse laranjeiras, mais nenhuma outra espécie. Queriam que arrancasse as outras alfarrobeiras. Recusei-me. Têm mais de cem anos, há que ter respeito.” A grande, pelo menos, não exige muita manutenção (às vezes cai uma pernada, a última terá sido há cinco anos). “Tem sobrevivido por si própria. E já cá está há muito. Penso que viu os árabes.” Talvez não tenha visto os árabes mas é uma raridade biológica entre as alfarrobeiras, que poucas vezes atingem estas dimensões: o seu perímetro pelo peito, mais de 13 metros, fá-la competir com exemplares de outras espécies, como o castanheiro ou o eucalipto, no top das árvores mais grossas de Portugal. Um colosso, portanto - e belíssima.

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