Fugas - Viagens

  • Fernando Veludo/NFACTOS
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Andam a assustar turistas no Porto. E eles gostam

Por Mónica Monteiro

Esta é uma visita guiada diferente das habituais. Passa-se à noite, somos acompanhados por uma personagem assustadora e advertidos: a história é verídica. O resultado são sustos e muitos gritos na noite do Porto.

Para aqueles que estão no Porto e gostam de histórias assustadoras em ambientes sombrios chegou a visita guiada perfeita. Neste percurso são relatados factos verídicos de portuenses que morreram de forma trágica. Com o auxílio de um leque de actores "assustadores", as histórias são apimentadas de forma a que sejamos transportados para a época. Arriscámos e fomos enfrentar os mistérios da cidade.

Vinte foram os curiosos que a nós se juntam na Rua Sá da Bandeira para assistir a esta “tour” repleta de horror. Mariana Sobral é quem nos guia pelos trilhos ensombrados da cidade. A visita começa na Viela da Neta, onde encontrámos António, enforcado e sem órgãos.

As histórias que ouvimos são de homens que mataram por ganância, de freiras que ainda hoje assombram os condutores da CP e de corpos nunca encontrados aquando do incêndio no Teatro Baquet.

Mariana percorre as ruas guiando-nos, simplesmente. Conta as histórias nos locais e vira costas assim que deixa no ar uma questão, sempre assustadora.

A própria refere que este tipo de histórias são o seu estilo. “Excitam-me muito”, confessa Mariana Sobral. “Escolhi esta temática porque realmente existem histórias terríveis aqui [no Porto] e muita gente não quer sequer ouvir falar delas”, explica a gestora de empresas que é responsável pela Invicta City Tours. A criadora da visita Scary Porto Stories adianta que a adesão tem sido “fantástica”.

Maria João, por exemplo, veio de Gondomar para participar, diz estar a gostar e admite já ter apanhado alguns sustos, tal como Cláudia Martins, que é portuense e refere que apesar dos sobressaltos está a achar "muito giro”. “Estou a conhecer um bocadinho mais das histórias da nossa cidade”, acrescenta. Já Ricardo assegura que não apanhou “assim tantos sustos” e conta-nos que “já conhecia uma das histórias” – a do incêndio no teatro Baquet.

Nervoso miudinho

Os factos são relatados nos sítios exactos onde aconteceram as tragédias, pormenor por pormenor, e quando os espectadores menos esperam surge uma personagem outrora morta, para nos tentar matar, a nós, de susto.

Mariana refere que por vezes também se assusta. “Infelizmente, porque é uma vergonha”, lamenta. “Sempre que entra algum actor no timming que nós não combinámos, basta um segundo antes ou um segundo depois, eu já fico mais nervosa. Basta esse nervoso miudinho e um grito no meu ouvido que eu acabo por gritar também”, admite a guia desta "visita de terror".

Depois da primeira passagem fugaz de um protagonista os espectadores não mais ficam descansados. Ainda Mariana vai a meio da história e já está toda a gente na expectativa, olham para todos os lados, tentam adivinhar de onde vem o próximo arrepio. Sem sucesso, a surpresa é sempre certa, mesmo para os mais cépticos.

A visita ainda agora começou e os sentidos já estão apurados. Estamos ao lado da estação de São Bento, onde conhecemos a história da freira Maria da Glória e já se ouve alguém dizer “até o cheiro assusta”. E assustava, a podridão que ali se sentia, condizia com a sinistra história que Mariana estava prestes a contar-nos.

Os mais incrédulos discordam do que ali se diz. A guia acabara de referir que os condutores da CP ouvem rezas da freira, quando por ali passam de comboio. “Das 1500 vezes que fui para Lisboa de comboio nunca ouvi nada”, alguém remata.

As histórias são passadas entre os séculos XVI e XIX. Unem a realidade da altura com pessoas singulares — protagonistas de histórias nunca antes contadas. É uma visita guiada pouco comum, pelo tema, pela hora e por ter intervenção teatral, ferramenta pouco utlizada neste tipo de mostras turísticas.

Bruno Aranha tem 31 anos e é historiador formado pela Universidade de São Paulo. É ele quem se encarrega de toda a pesquisa e verificação dos factos, que, para a Invicta City Tours, é muito importante. “Nós tivemos o cuidado de procurar fontes seguras para que não induzíssemos as pessoas em erro”, refere Mariana.

12 liberais decapitados

O percurso termina em 1829, ano em que foram decapitados 12 liberais, na Praça da Liberdade. É-nos mostrada a cabeça de uma das vítimas, bem de perto, não vamos nós ter uma falta de visão repentina.

Para acalmar os ânimos é servido um copo de vinho do Porto e os turistas confraternizam agora com os actores, que lhes cortaram a respiração durante uma hora.

Esta visita guiada é promovida pela Invicta City Tours, empresa criada pela Mariana. “Criei a Invicta City Tours sozinha. No dia 1 de Maio começámos a trabalhar – este é o projecto do meu Mestrado em Gestão de Empresas – já que tinha que fazer uma tese aproveitei para fazer algo que eu ia utilizar na vida prática e optei por desenvolver a empresa que é uma ideia já de 2010”, conta a jovem de 25 anos.

A gestora de empresas confessa que o que mais a motiva, em particular, nesta visita é a raíz das histórias, que aconteceram na cidade que a viu crescer. "Eu ando nestas ruas desde que tinha meses e muitas destas histórias eu não fazia ideia que existiam antes de começarmos a nossa pesquisa e isso motiva-me muito mais do que o próprio terror” acrescenta.

A visita tem outra versão, mais longa, que se chama Haunted Dinner Tour. Inclui um jantar e uma ida a uma casa assombrada. Dura cerca de quatro horas. A próxima realizar-se-á no dia 6 de Setembro e custa 32 euros.

Esta versão mais curta tem o custo de oito euros e duração de uma hora. O número de sessões semanais depende da adesão do público. "Há semanas em que a visita acontece quatro vezes, outras em que acontece apenas duas". Realizam-se sempre que exista um grupo de 15 ou mais pessoas. As pulseiras negras (bilhetes) podem ser adquiridos através do site, Facebook ou na loja Oblivion, situada na Rua de Santa Catarina.

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