Para aqueles que estão no Porto e gostam de histórias assustadoras em ambientes sombrios chegou a visita guiada perfeita. Neste percurso são relatados factos verídicos de portuenses que morreram de forma trágica. Com o auxílio de um leque de actores "assustadores", as histórias são apimentadas de forma a que sejamos transportados para a época. Arriscámos e fomos enfrentar os mistérios da cidade.
Vinte foram os curiosos que a nós se juntam na Rua Sá da Bandeira para assistir a esta “tour” repleta de horror. Mariana Sobral é quem nos guia pelos trilhos ensombrados da cidade. A visita começa na Viela da Neta, onde encontrámos António, enforcado e sem órgãos.
As histórias que ouvimos são de homens que mataram por ganância, de freiras que ainda hoje assombram os condutores da CP e de corpos nunca encontrados aquando do incêndio no Teatro Baquet.
Mariana percorre as ruas guiando-nos, simplesmente. Conta as histórias nos locais e vira costas assim que deixa no ar uma questão, sempre assustadora.
A própria refere que este tipo de histórias são o seu estilo. “Excitam-me muito”, confessa Mariana Sobral. “Escolhi esta temática porque realmente existem histórias terríveis aqui [no Porto] e muita gente não quer sequer ouvir falar delas”, explica a gestora de empresas que é responsável pela Invicta City Tours. A criadora da visita Scary Porto Stories adianta que a adesão tem sido “fantástica”.
Maria João, por exemplo, veio de Gondomar para participar, diz estar a gostar e admite já ter apanhado alguns sustos, tal como Cláudia Martins, que é portuense e refere que apesar dos sobressaltos está a achar "muito giro”. “Estou a conhecer um bocadinho mais das histórias da nossa cidade”, acrescenta. Já Ricardo assegura que não apanhou “assim tantos sustos” e conta-nos que “já conhecia uma das histórias” – a do incêndio no teatro Baquet.
Nervoso miudinho
Os factos são relatados nos sítios exactos onde aconteceram as tragédias, pormenor por pormenor, e quando os espectadores menos esperam surge uma personagem outrora morta, para nos tentar matar, a nós, de susto.
Mariana refere que por vezes também se assusta. “Infelizmente, porque é uma vergonha”, lamenta. “Sempre que entra algum actor no timming que nós não combinámos, basta um segundo antes ou um segundo depois, eu já fico mais nervosa. Basta esse nervoso miudinho e um grito no meu ouvido que eu acabo por gritar também”, admite a guia desta "visita de terror".
Depois da primeira passagem fugaz de um protagonista os espectadores não mais ficam descansados. Ainda Mariana vai a meio da história e já está toda a gente na expectativa, olham para todos os lados, tentam adivinhar de onde vem o próximo arrepio. Sem sucesso, a surpresa é sempre certa, mesmo para os mais cépticos.
A visita ainda agora começou e os sentidos já estão apurados. Estamos ao lado da estação de São Bento, onde conhecemos a história da freira Maria da Glória e já se ouve alguém dizer “até o cheiro assusta”. E assustava, a podridão que ali se sentia, condizia com a sinistra história que Mariana estava prestes a contar-nos.