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  • Um picante Bloody Mary
    Um picante Bloody Mary

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Uma viagem picante no Luisiana

Feitas as advertências, Osborn pede então ao empregado que abra os dois barris que escolheram: um novo e outro com três anos de guarda. O primeiro liberta um aroma surpreendente a fruta vermelha exótica madura (lembra a pitanga da Madeira). Já o segundo barril tem um aroma intenso, devido ao envelhecido, mas menos exuberante.

“Quero que prestem atenção ao que acontece nas vossas bocas”, indica-nos antes da prova. O embaraço de sair dali a correr, como se alguém tivesse acabado de nos deitar fogo, é mais ou menos visível nos rostos. Todavia, Osborn tem (quase) razão: “O tabasco não queima, vai directo às papilas gustativas, deixando-as mais abertas.” A sensação na boca é forte mas não ardente (bom... não totalmente ardente.). Primeiro sente-se a fruta mas rapidamente o picante passa a sensação dominante. Na amostra do segundo barril o sabor  aproxima-se daquilo que é o produto final: menos frutados, mas mais complexos (com um toque de umami).

Primeiro estranha-se...

 É verdade que nos habituámos a ver garrafinhas de “colónia” picante nos galheteiros de temperos de todo o mundo. Porém, é na gastronomia da sua região de proveniência que melhor se compreende o sucesso. Num dos jantares, um responsável da empresa confessou-me que colocava Tabasco em praticamente tudo. Não lhe dei grande crédito. No entanto, passe o exagero, a verdade é que a marca tem uma gama de molhos variado que se adapta a vários pratos (até um de framboesas combina com certas sobremesas) e a receita original vai bem com os mariscos locais de sabor pouco expressivo, como o caranguejo, o camarão ou as ostras. As últimas aparecem muito associadas ao molho que combina, sobretudo, com duas das formas de confecção predilectas na região: panadas fritas ou gratinadas. Porém, acrescentar Tabasco numa ostra de sabor mais assertivo, como as nossas da ria Formosa, por exemplo, fará levantar o sobrolho a alguém mais purista. Há ainda outra particularidade em relação ao gosto português por picantes. O português está muito habituado ao molho piripiri, mais directo e ardente. Contudo, o Tabasco tem uma certa complexidade que faz dele um tempero diferente e interessante. A comparação, neste caso, é um pouco como a de uma aguardente nova em relação a outra envelhecida. Como no slogan que Fernando Pessoa escreveu para outro produto norte-americano, ainda mais famoso, também neste caso pode-se estranhar, mas depois entranha-se. E a forma mais viciante e inusitada de o fazer passa por umas gotas do molho tradicional em pão quente com manteiga. No Luisiana ou em terras lusas.

GUIA PRÁTICO

Como ir 
De Lisboa chega-se a Nova Orleães via Nova Iorque ou Miami. Dali a Avery Island são duas horas de carro. 

Quando ir 
A região do Luisiana é muito quente e húmida no Verão, pelo que é mais aconselhável seja visitá-la no final da estação, princípio de Outono, ou na Primavera.

Onde ficar 
O Hampton Inn & Suites, em New Iberia, a meia dúzia de quilómetros de Avery Island, é um daqueles hotéis de estrada simples e confortável que nos habituámos a ver nos filmes. Se achar demasiado descaracterizado, vingue-se em Nova Orleães e fique no Ritz Carlton, em Canal St. 

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