Fugas - Viagens

  • Sérgio Azenha
  • Marco Maurício
  • Sérgio Azenha
  • Sérgio Azenha
  • Luís J. Santos

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Dois dias na Corunha, a vaguear entre lendas e mares

Aparentemente alheios a todas estas questões parecem estar os seres que habitam o circular tanque em exposição no centro do aquário e que reproduz a vida a 400m de profundidade, com raias-de-dois olhos, tamboris, sapateiras, lagostins, caranguejos… As salas percorrem-se de aquário em aquário (naturalmente, os peixinhos coloridos que povoam o imaginário infantil desde o filme Nemo também cá estão) até chegarmos aos grandes tanques por onde as moreias parecem encetar um bailado e tudo à volta nos remete para o interior do imaginário de Júlio Verne. Mas a estrela deste espaço é Gastón, um tubarão-touro de três metros e mais de cem quilos. Enquanto isso, lá fora as focas exploram a piscina natural que aproveita as escarpas para recriar um ambiente divertido para estes animais.

O aquário está aberto todo o ano (encerra apenas no Natal, Ano Novo e Dia de Reis), de segunda a sexta entre as 10h e as 18h e aos fins-de-semana e feriados das 11h às 20h. A entrada tem um custo de 10€.

Mercado de Santa Lucía: Festim de cor

Valorizar o mar poderia ser um lema no Mercado de Santa Lucía, onde logo pela manhã fomos encontrar um verdadeiro banquete marinho. Assim que se entra é uma festa. De cor, de brilhos dos peixes frescos ainda por escamar, de cheiros. Pelas bancas deste mercado novinho em folha e forrado a vidro, uma amostra da fauna que povoa a ria da Corunha e o mar da Galiza. Todos expostos com o cuidado e com o gosto de quem vê naquele pedaço de balcão uma montra viva por onde se podem apreciar polvos, mexilhões, perceves, santolas, amêijoas, berbigões.

O colorido do mercado manifesta-se no que se vende e em quem aqui faz vida. É o caso de Bea, 59 anos, com três décadas de mercado no currículo, que vai trauteando uma cançoneta enquanto amanha o pescado de uma fiel cliente. Acorda todos os dias pelas 3h para chegar à lota às 5h. Só assim se consegue o peixe mais fresco.

Passeamo-nos de banca em banca, sem o que comprar. Não somos os fregueses ideais, mas nem por isso os sorrisos se desvanecem. É que a boa disposição também faz parte do negócio. “Temos que nos divertir enquanto trabalhamos, se não é uma tristeza”, resume Bea com uma ampla gargalhada.

O novo edifício, que poderia ser confundido com um qualquer centro comercial — o antigo, opina a nossa guia corunhesa, “era muito bonito”, mas não só “não tinha condições” como “a reconstrução exigia um custo demasiado elevado” —, divide-se em mais pisos além deste dedicado ao mar. Há um só para frutas e vegetais e outro que se divide entre talhos e charcutarias. Num destes, o queijo típico da Galiza que não costuma deixar os turistas indiferentes graças à sua forma semelhante a um seio feminino. O queijo Tetilla, diz-se, começou a ser cozinhado com este formato depois de as autoridades religiosas terem ordenado o corte das curvas do peito da estátua da rainha Ester na Catedral de Santiago.

Domus, Casa do Homem: Conhece-te a ti mesmo

Apresenta-se como o “primeiro museu interactivo do mundo dedicado ao ser humano” e foi projectado por um dos maiores arquitectos vivos, o japonês Arata Isozaki. O prédio impõe-se frente ao mar como uma vela enfunada pelo vento, erguida num “navio” de rocha, sabiamente aproveitada na estrutura do edifício, revelando-se, aqui e ali, naturalmente húmida e limosa. Como se o prédio fosse em si um ser vivo que por acaso a rocha deu à luz.

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