Lá dentro, o espaço expositivo não surpreende tanto quanto o esqueleto arquitectónico, traçado a grandes aberturas, ligações, interligações e corredores verticais. Ainda assim, há diversão didáctica por todo o lado — e peças marcantes das mais diversas áreas. É que o Domus, que tem por mote Nosce te ipsum (latim para “Conhece-te a ti mesmo”), reparte-se por umas duas centenas de pontos relacionados com a Inteligência, a Genética e a Evolução. Querendo ser um museu interactivo (atenção ao slogan: “É proibido não tocar”), tão científico quanto pop (e acessível: 2 euros), dá-nos logo dois sinais de que é possível ser sério sem deixar de brincar. Há logo sexo e cinema: lembra-se Marilyn Monroe de saia a subir com mãos de vento. Há logo vida e morte, pensamento e arte: um esqueleto azul sobre pedestal de estátua em posição d’ O Pensador de Rodin. Por todo o lado há informação e há “brincadeiras”: são dezenas de jogos, aparelhos, instrumentos de medição, etc., etc., tudo posto à disposição para usarmos. Podemos medir-nos de todas as formas e feitios, pôr as mãos sobre a barriga de uma mãe-modelo para sentir como um bebé se mexe e dá pontapés, testar a rapidez do nosso pontapé. No fim, não se pode deixar de tirar a fotografia de família com os nossos antepassados: um Neanderthal, um Erectus ou um Australopithecus.
Instalado no edifício de Isozaki há outro Domus, um restaurante que tem na ementa o cunho do chef Eduardo Pardo e um gostinho da Casa Pardo, sítio afamado e estimado com meio século e estrelas Michelin na sua história. O Domus de Eduardo Pardo não vira as costas ao museu nem à sua história (prova disso são os croquetes, uma receita da avó) mas tem, literalmente, os olhos postos no mar, com uma corrida varanda transformada em sala de refeições, e no futuro, criando um menu que baseia a sua essência nas raízes e nos produtos locais para depois se atrever a umas fusões mais cosmopolitas. O preço médio de uma refeição varia entre os 20€ e os 44€.
Um conselho: se for primeiro ao restaurante e depois ao museu, salte alguns dos aparelhos de medições, especialmente a balança…
Praça de María Pita: Vida na rua
“Nas veias corre-nos o sangue de María Pita.” É assim que a nossa guia descreve as mulheres corunhesas. María Pita, nome de praça ampla a convidar a pausas de esplanada e de uma panóplia de outras coisas (pastelarias, restaurantes, hotéis…), foi uma heroína do século XVI, sendo-lhe atribuído o feito de ter derrotado o soldado inglês que, durante o cerco britânico à cidade, em 1583, empunhava a bandeira. Com a bandeira dos invasores na sua posse, María Pita terá liderado um movimento popular contra os militares ingleses gritando “Quen teña honra, que me siga”.
Mas María Pita, de nome completo María Maior Fernandes da Camara Pita, não ficou na história da Galiza apenas pelo seu acto heróico. Em pleno século XVI, casou-se quatro vezes, tendo enviuvado todas elas. Dizem as más-línguas que não propriamente por causas naturais.
A história de María Pita pode começar por ser estudada na sua praça, onde uma estátua representa a mulher com o inglês que comandou o ataque à cidade derrotado aos seus pés. A praça, construída entre 1860 e 1926, desenha-se num quadrado dentro do qual se encontra o Palácio Municipal da cidade. Mas o que se torna imperdível nesta praça são as pessoas que lhe dão vida. Haja um pouquinho de sol e a praça enche-se de gente que ocupa as muitas esplanadas, entre petiscos e conversas barulhentas. É também um bom ponto de partida para descobrir a zona velha, onde o reencontro com María Pita é inevitável junto à Casa-Museu em que se transformou a propriedade do seu primeiro marido, Juan Alonso de Rois. Mas antes há tempo para nos perdermos pelas ruas íngremes de calçada irregular, para passear pelos pequenos jardins por onde vamos passando, como o Jardín de San Carlos, onde se encontra o túmulo do general Sir John Moore, e do qual voltamos a defrontar-nos com o azul do mar, ou para descobrir histórias religiosas, como a de Santiago, do século XII, a mais antiga da cidade.