Fugas - Viagens

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Cuba: A farmácia a céu aberto de Topes de Collantes

“Certamente que já ouviram elogios ao café da Colômbia. Mas os cafés de Cuba e da Jamaica são os melhores do mundo”, garante Andrés. É “em Guantánamo que está a produção em massa”, mas aqui, a 840 metros de altitude, “está a melhor qualidade”. Das encostas da serra do Escambray saem todos os anos 200 toneladas de café arábico, que se destinam em exclusivo à exportação. “O Japão paga fortunas pelo nosso café”, conta, orgulhoso, Andrés, 55 anos e 16 como guia no parque. 

“A natureza e o meio ambiente são muito importantes para Cuba, mas são uma parte de Cuba de que pouco se fala no mundo”, lamenta diz Andrés, elevando a sua voz para que o possamos ouvir entre os roncos do camião que se movimenta, aos solavancos, por um colossal túnel verde. Sozinhos não conseguimos nomear as espécies que nos passam pela frente dos olhos – distinguimos palmeiras, naturalmente, fetos enormes, alguns pinheiros, mas para chegarmos à Cecropia peltata (yagruma, nome comum) ou ao Ficus cubensis (jagüey, nome comum) precisamos da ajuda quase enciclopédica de Andrés Santana. Atenção, meninos e meninas, vai começar a aula. 

Quando nos apeamos do camião, já estamos no Parque Guanayara, a postos para começar uma caminhada de hora e meia dentro de um livro vivo de botânica. Há urubus a planar e o guia sugere que estejamos atentos, que também vão passando, velozes, vencejos de cuello blanco, aves que podem voar a velocidades meteóricas. Daqui a nada conseguiremos escutar-lhes o canto, mas vê-los, nem por sombras.
Vemos, isso sim, o comportamento divertido das dormilonas, a quem Andrés nos apresenta. Trata-se de “plantas sensitivas”, que se recolhem sobre si próprias quando lhes tocamos. O nome científico é Mimosa pudica, mas por estas bandas é conhecida como “a planta das mulheres infiéis”, conta o guia, divertido, acrescentando que as dormilonas “têm propriedades soporíferas”. 

“Isto aqui é como uma farmácia”, diz ainda Andrés, enquanto nos guia pelo trilho emaranhado — sem a sua orientação, é certo e sabido que nos perderíamos antes de chegarmos, sequer, ao Salto del Rocío. “Precisam de remédio para as queimaduras? Aqui está, Chanel 25”, brinca Andrés, apontando para a Piper auritum. “E precisam de melhorar o hálito? Aqui está a goiaba, que tem taninos que evitam a formação da placa bacteriana.” Mais à frente, a palma real, “a planta que representa todos os cubanos” e cuja raiz tem “ácido fosfórico, que é bom para os cálculos renais”. Também há a “afrodisíaca” salsa parrilha e a “mata-sogras, a planta mais venenosa de Cuba”. “Mata em 15 minutos de infusão”, alerta Andrés Santana.   

Com estas e outras, quase nem damos pelo que já caminhámos. Já se ouve, ainda que ao longe, o barulho da cascata do Salto del Rocío, que marca mais ou menos a metade do trilho “Sentinelas do rio Melodioso” — não o cumpriremos na íntegra, detivemo-nos tempo de mais a olhar para as plantas e a contemplar a queda de água de 32 metros. Espera-nos o frango da Casa de La Gallega, um restaurante familiar situado junto ao rio Guanayara. É um pequeno oásis de flores, frutas e melodias de água a correr onde se experimentam os sabores de Docinda Amanda Sotello, 71 anos, filha de pai galego, de Lugo. 

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