Avançamos pela lezíria. O contraste é impressionante e a fronteira entre a charneca e a lezíria parece ter sido desenhada a régua e esquadro. Entre os campos alagados avista-se ao longe uma bonita igreja com ar de abandonada. Descobriremos mais tarde tratar-se de um dos templos para que os viajantes vindos um pouco de todo o país na primeira metade do século XX para as sementeiras e as colheitas da Borda d’Água pudessem fazer as suas orações.
Actualmente, os vastos arrozais fornecem o cereal necessário para encher as prateleiras dos supermercados com arroz Bom Sucesso. Cruzamos os campos e vamos reparando que enquanto alguns enchem, outros vão sendo vazados. Não percebemos é muito bem qual é qual. Mas, despreocupados, os nossos interlocutores garantem que 2015/2016 serão anos benéficos para a produção de arroz.
No entanto, os campos alagados não guardam apenas este cereal. Há um incalculável número de organismos vivos que servem de porta-estandarte para que a lezíria esteja para as rotas de migração de aves como as estações de serviço estão para a auto-estrada. Umas, até, gostam tanto do repasto que acabam por sacrificar a viagem e ficar pela lezíria até ao Outono, quando o frio começa a fazer com que as aves rumem a sul.
É já perceptível que estamos na Reserva Natural do Estuário do Tejo, uma das dez zonas húmidas mais importantes da Europa. E este vaivém de passarada acabaria por ditar a evolução positiva de um projecto inaugurado há dois anos: o EVOA, um espaço de observação de aves no estuário do Tejo com centro de interpretação e uma forte vertente didáctica. O espaço, concebido para estar em perfeita comunhão com a natureza que o envolve, reúne toda a informação sobre a flora e a fauna presentes pelos 80 hectares. E mostra como as diferentes aves são tão bem acolhidas pela lezíria que lhes fornece o espaço e o alimento necessário à sua sobrevivência.
Nós ficamo-nos pela observação destas vidas pelo canudo de um telescópio, enquanto absorvemos as cores com que as plumagens dos patos, alheios à nossa presença, se vestem na Primavera. Enquanto isso, uma mesa montada com um lanche regional alimenta outros sentidos que, com o fim do dia a aproximar-se, sentem-se moídos mas com vontade de perguntar: para quando o próximo passeio? A resposta está ao virar do mês: próximos dias 3, 4 e 5 de Julho, com um clássico: o “mítico” Rali da Guarda, que teve a sua primeira edição em 1988.
A Fugas participou no 2.º TT Da Charneca à Lezíria a convite do Clube Escape Livre