Fugas - Viagens

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E Nova Iorque criou o Natal

Há uma massa compacta de gente de sacos na mão a percorrer a Quinta Avenida nos dois sentidos, desde a Biblioteca Nacional, junto ao Bryant Park, até à praça em frente ao Plaza Hotel, mesmo à entrada do Central Park. No passeio, o ritmo do passo em que se consegue andar é ditado pela velocidade média de um aglomerado indeciso ou dividido na sua atenção, que oscila entre a cabeça no ar, tentando captar o horizonte de arranha-céus, demorar os olhos no que consegue apreender do espectáculo montado nas montras, ver onde pisa, ou embasbacar-se com alguém que passa ao lado. Fixar um rosto dura segundos e não parece haver uma língua discernível. Há palavras soltas em inglês, espanhol, chinês, russo, português de Portugal e do Brasil, francês, italiano… Homens e mulheres vestidos de pelúcia e de papelão a anunciar novidades, promoções, mendigos sentados com cartazes que pedem mais do que atenção e outros de pé, mão esticada a uma moeda. “Dêem-me esses espectáculos – dêem-me as ruas de Manhattan”, disse Walt Whitman, o escritor que gostava das multidões mas que não viveu para ver as que agora percorrem a ilha pelo Natal, comandadas por uma banda sonora de cânticos religiosos, clássicos natalícios da música pop, sinos de renas, buzinas de carros com condutores impacientes, pregões a anunciar descontos antecipados, ou uma pechincha, ali mesmo, numa banca de rua.

Era disto que Henry Miller falava quando dizia que Nova Iorque pode levar qualquer um à loucura se não se tiver uma espécie de “estabilizador interno”? Miller morreu em 1980, e embora as suas multidões estivessem mais próximas das actuais do que as de Whitman, ainda não eram assim. Dito isto, é bom accionar o estabilizador quando se está no chamado Passeio de Natal, o Holiday Walk, entre as ruas 40 e 59 da Quinta Avenida. As lojas-mãe, ou flagship stores das grandes marcas, trabalharam um ano inteiro na decoração de montras que tentam conjugar da melhor forma luxo e originalidade. Há visitas guiadas organizadas para ver o que fazem a Sacks, Louis Vuitton, Bergdorf Goodman, Prada, Henri Bendel. Qualquer site turístico as anuncia, com ou sem entrada nas lojas. Disputam a atenção de milhares de pessoas e tornam-se uma das maiores atracções de Natal, juntamente com a montra dos armazéns Macy’s, um pouco abaixo e a Oeste, em Herald Square, esquina da Sexta Avenida com a Rua 34. Com os teatros à volta de Time Square e a Radio City Hall, onde desde 1933 acontece um dos mais emblemáticos espectáculos da cidade – o Radio City Christmas Spectacular –, estes são inevitáveis grandes aglomerados de um visitante em tempo de Natal.       

Tudo o resto será pacífico, com mais ou menos filas de espera. Se começar pelo holiday walk e terminar o passeio assustado ou cansado, experimente uma terapia para acalmar: seguir do Plaza Hotel e entrar no Central Park ao fim do dia — pelas cinco, seis da tarde — e surpreender-se com um silêncio como só o frio e a neve são capazes de fabricar. São menos de cinco minutos de distância a pé entre o Natal mais ruidoso e o mais pacífico.

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