Fugas - Viagens

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Uma space oddity para ver a aurora boreal

Por esta altura já tínhamos cumprido parte do programa associada a esta viagem - jantar num novo restaurante do Terminal Sul do aeroporto de Gatwick, o Grain Store, cujo chef, Bruno Loubet, ostenta uma estrela Michelin - e estávamos num lounge do aeroporto onde Seb Jay, da Dark Sky Telescope Hire (empresa turística especializada em observação de estrelas), nos deu uma breve introdução ao fenómeno da aurora borealis e afirmou que tínhamos “uma hipótese razoável” de a ver, já que as condições estavam “favoráveis”.

Se chegássemos a 400 milhas (643 quilómetros) desta, adiantou, “com sorte” veríamos “irradiações de cor verde”; se conseguíssemos aproximar-nos mais, 200 milhas, o lilás e o amarelo, por exemplo, também fariam parte da paleta colorida. “De acordo com as previsões de actividade solar e electromagnética, o que devemos ter são as 400 milhas”, concluiu, mantendo as expectativas controladas - ou seja, no máximo o avistamento de um “brilho verde homogéneo”. “É só o que vos posso dizer, será uma aventura tanto para mim como para vocês”, explicou perante uma plateia mais ou menos atenta, constituída por 80 convidados, entre imprensa e outros parceiros estratégicos da companhia de aviação, à qual não se permitiam copos vazios.

Quando embarcámos no novíssimo Airbus A320 da companhia, apresentado também no âmbito da celebração dos 20 anos e reservado para este voo privado, já tínhamos tido, então, um curso rápido em auroras boreais - Aurora, deusa romana do amanhecer; Boreas, vento norte na mitologia grega. Quase ironicamente, apesar de este ser um fenómeno que se dá melhor com a lua (que é como quem diz, com a noite), é no sol que nasce.

E de forma violenta, uma vez que a superfície deste é um caldeirão de turbulência ininterrupta, onde se “cozinham” partículas de carga eléctrica que, dependendo das condições “meteorológicas” do sol são lançadas no espaço em alta velocidade (vento solar) e podem ser capturadas pelo campo magnético da Terra. Ao colidir com as partículas de ar mais elevadas dá-se a “magia” das luzes: o verde-amarelado vem do encontro com o oxigénio, o vermelho do oxigénio com um pouco de nitrogénio, o violeta com o nitrogénio. Nós aventurámo-nos numa terça-feira e na sexta-feira anterior uma ejecção de massa coronal (CME, no seu acrónimo inglês), uma espécie de bala em que a matéria concentrada (partículas magnetizadas) é lançada numa única direcção, tinha ocorrido. Demora três dias a chegar à Terra: a ideia é que veríamos os seus efeitos.

Demorámos pouco mais de hora e meia (preenchidas com “discos pedidos” a um guitarrista que acompanhou a viagem) até chegarmos à zona em que as luzes no interior do avião se apagaram e o comandante começou a andar em círculos - habemus aurora!, dizia o astrónomo.

À vez, ao lado esquerdo e ao lado direito do avião era a possibilidade de se maravilhar com as luzes (estavam para “os lados da Islândia”) e nós um pouco à toa: vemos partes, nunca ao nosso lado, para a frente ou para trás, onde a noite está um pouco iluminada, mais clara, de um verde-amarelado muito, muito pálido.

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