Confessamos que a olho nu não vimos as cores saturadas que associamos às auroras boreais e que as fotografias revelariam. Até as nossas: fez parte da preparação, com direito a cábula e tudo, como operar as máquinas e smartphones para a experiência. Nós seguimos à risca (a abertura máxima, o ISO 800, 1600 e mais elevado, a exposição prolongada, o foco para o infinito), depois improvisámos um pouco, e, sim, o ecrã da máquina revelaria algo que não víamos sem este intermediário: o verde intenso a pintar o negro da noite estrelada, abrindo caminhos imprevisíveis na escuridão, ainda que sem grandes proezas dançantes.
Quando o nosso lado ficava na sombra da aurora, revelava-se a noite límpida e estrelada típica dos meses frios. Sentíamos que as estrelas estavam ali à mão - e não mortas há milhões de anos.
A constelação de Oríon andava a espreitar, Júpiter também não faltou à chamada, Sirius foi mesmo a estrela mais brilhante e a Via Láctea deixava-se espreitar. Não nos levem a mal se confessarmos que isto foi o que ouvimos de Seb Jay, incansável a apontar-nos o cosmos, sem conseguirmos realmente discernir nada. E, na verdade, pouco importava, porque quando conseguíamos abstrair-nos do que nos rodeava, era como se estivéssemos sozinhos, hipnotizados pelas estrelas lá fora, sem precisar de saber nada.
Apenas sentir que estávamos numa cápsula espacial, enquanto na nossa cabeça, em loop, ouvíamos this is ground control to Major Tom, a Space Oddity de David Bowie a acompanhar-nos. E esta foi, realmente, uma viagem singular, uma excentricidade não espacial, mas aérea, pelo menos - com a bênção da natureza, na orla da Terra.
A Fugas viajou a convite da easyJet
GUIA PRÁTICO
Onde ver a aurora boreal
Não há que enganar: no que às auroras boreais diz respeito, o rumo é mesmo ao Norte. Quanto mais perto do Árctico, melhor. Deixamos algumas sugestões. Na Gronelândia e Islândia, todo o território é bom para as ver, é tudo uma questão de acessibilidades; na Noruega, Svalbarb e Tromsø; na Finlândia, Nellim e Kakslauttanen; na Suécia, a Lapónia e a região de Kiruna; na Dinamarca, ilhas Feroé; na Escócia, o norte das Terras Altas e as ilhas Shetland e Skye; no Canadá, o Território do Yukon; no Alasca, também o Yukon e o Parque Nacional e Reserva de Denali; na Rússia, a Sibéria e a Península de Kola.
De qualquer forma, e apesar de a aurora boreal não ir desaparecer, o facto de elas acontecerem num ciclo solar de 11 anos faz com que nos próximos anos as suas manifestações sejam menos frequentes e intensas. Esse período durará até 2024-2026 – mas até final de Março ainda estão no seu apogeu.