Fugas - Viagens

  • João Cortesão/ Clube Escape Livre
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Para comer o bucho é preciso enfrentar a estrada

Figueira de Castelo Rodrigo e Serra da Marofa

Saindo de Cidadelhe, de novo por caminhos subindo montes e vales, atravessando riachos e até um charco extenso mas pouco profundo, onde nos sentimos mais num barco que num carro, chegamos a Figueira de Castelo Rodrigo, onde nos espera no Restaurante Transmontano, uma refeição “leve” – um rancho, com tudo a que temos direito. De olhos cheios (pelas vistas) e barriga cheia (de grão, massa, carnes e enchidos), seguimos para o castelo e zona histórica de Castelo Rodrigo, a 820 metros de altura, com direito a visita guiada e onde provamos (e compramos…) umas amêndoas doces artesanais que são uma deliciosa especialidade local.

O pior, porém, está para vir. Descendo de Castelo Rodrigo, para digerir o repasto, cumprimos a Via Sacra, um troço de um dos muitos Caminhos de Santiago que sobe até ao cume da serra da Marofa, a 977 metros de altura, por íngremes e ziguezagueantes trilhos estreitos, com muita pedra e piso irregular, requerendo esforço e calma para enfrentar as dezenas de curvas fechadíssimas, tendo de um lado rocha e do outro o precipício. No topo, onde se ergue um Cristo-Rei de braços abertos virado para Espanha e uma ermida em honra de Nossa Senhora Fátima, somos recompensados por uma visão deslumbrante a 360º da região de Riba Côa, com Castelo Rodrigo lá em baixo.

Porém, somos invadidos por um sentimento misto: conhecem aquela anedota do intrépido alpinista que escala uma escarpada montanha e que, quando chega ao cimo, é aguardado por um batalhão de fotógrafos, jornalistas e televisões? Pois foi o que sentimos ao descer pela estrada asfaltada que vai mesmo até ao cume. Pronto, ok, todo-o-terreno é todo-o-terreno, mas como diria o diácono Remédios, figura criada por Herman José, “não havia nechecidade”. Vá lá que dali até Pinhel, a última etapa do dia, embora por terra, é calma, salvo a descida e subida de um corta-fogo e o atravessamento de um riacho, com direito a um grande banho ao autor das fotos que acompanham este texto, que, querendo obter boas imagens, se postou perto demais.

Pinhel

A última paragem do dia, antes de recolhermos à Guarda, é em Pinhel, uma cidade cujo nome deriva da grande quantidade de pinheiros existentes na zona. Para além do bem conservado casario, merece uma visita o recém-inaugurado Museu Municipal e Centro Histórico, onde uma guia nos leva por uma viagem pelo passado e presente da cidade e da região circundante. Ponto comum a todos os lugares que visitamos é sentir o carinho das suas gentes pela história e tradições bem como o cuidado na preservação do seu passado cultural e monumental. O esforço pela manutenção e conservação dessas memórias, bem como o combate à desertificação do interior, estão sempre presentes. “Só” falta que os diversos governos se deixem de tiradas grandiloquentes e ponham em prática medidas efectivas para apoiar essas populações e incentivar o repovoamento do território.

Freineda e a Festa do Bucho

Domingo de manhã, rumo a Freineda, a maior parte do percurso é feito por um trilho paralelo à A25, cuja única nota positiva é de nos livrar ao pagamento das pornográficas portagens que oneram as ex-Scut, que se deveriam chamar Cmut (Com muitíssimos custos para o utilizador). Quando se paga em portagens mais de 46€, ida e volta, da Guarda a Lisboa, ou 28€ da Guarda ao Porto (isto em classe 1, que em classe 2 o valor quase duplica), onde está o incentivo para quem mora no interior e não tem transportes públicos decentes? Nós temos a quarta rede viária da Europa, mas os custos da sua utilização são tão exorbitantes que só os ricos podem dela desfrutar.

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