Fugas - Viagens

  • Adriano MIranda
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Ferreira de Castro, à sua imagem e semelhança

E lá está a igreja velha onde foi baptizado e fez a comunhão, dia em que pronunciou o discurso religioso escrito pelo padre, decorado para a ocasião. O Ti Zé Moleiro fez parte da sua vida, esse homem de poucas palavras, sempre com o burro atrás, e com quem conversava sempre que regressava de Lisboa. O homem que, como escreveu, “representava a poesia humana da aldeia”. “(…) somente ao morrer de cada sábado abandonava o moinho, sem casaco, apenas de camisa, colete e calças, coberto por um chapéu largo de abas ensebadas e todo embranquecido de farinha; e, com um burro pela arreata, carregado de sacos de milho já moído, por atalhos atravessava metade da freguesia, para surgir à noitinha, já meio difuso e semifantasmal no lusco-fusco, à beira da estrada, onde tinha a sua casa e a família”.

O cemitério de Ossela também faz parte do roteiro. Ali estão enterradas os dois amores da sua vida. Diana de Lis, a sua primeira mulher, escritora de Évora, e Elena Muriel, segunda mulher, pintora espanhola e com quem deu a volta ao mundo.

José Rodrigues dos Santos é presidente da Junta de Freguesia de Ossela, filho de Maria Manuela, secretário da Associação dos Amigos de Ferreira de Castro. Conheceu o autor de Emigrante, de A Lã e a Neve, de A Missão. Ajudou-o na tarefa de colocar os livros na biblioteca, desenhou-o várias vezes pelo próprio punho. “Estivemos três meses a montar a biblioteca, foi tudo colocado pela mão dele”, lembra. Recorda-se dele sempre com o cigarrinho na boca e com vontade de beber café. “Havia uma coisa que ele dizia e que nunca mais esqueci: para nunca estarmos satisfeitos com aquilo que fazíamos, para ir mais além.” E ele, de uma família pobre, mostrou que era possível ir mais longe.

Ferreira de Castro colocou Ossela no mapa. No Guia de Portugal, editado em 1924, descrevia a terra do seu coração. “Cortado pelo rio Caima, debruado de amieiros e de salgueiros, o Vale de Ossela é uma série de rincões edénicos, onde a natureza veste as suas melhores galas, despretenciosamente, como se o fizesse por simples hábito. Torna-se necessário trilhar ínvios caminhos para surpreender todo o encanto da terra doce que parece contemplar-nos com uma meiguice sonhadora, uma ternura que não se esquece. Lá no fundo do vale, já nas fraldas da serra, divisa-se a Igreja Velha, o Mosteiro presumível lugar, outrora, de anacoretas contemplativos.” Nunca duvidou do respeito das gentes da sua terra. Sabia que os seus conterrâneos do concelho oliveirense guardariam as suas memórias. “(…) tratarão da Biblioteca com o mesmo amor com que eu a fundei e da humilde casita natal com o mesmo carinho que a vêm tratando até hoje, carinho que tantas vezes me tem comovido”, escreveu na carta de doação da  biblioteca ao município. E as gentes da sua terra estão a celebrar os 100 anos da sua vida literária. O ex-ministro da Educação Nuno Crato esteve na Secundária Ferreira de Castro, em Oliveira de Azeméis, a dissecar a obra A Curva da Estrada, depois disso exibiu-se um documentário sobre a sua vida e a casa-museu produzido por Mário Augusto. E, ao longo de 2016, haverá mais iniciativas na agenda.

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