Fugas - Viagens

  • Miguel Manso
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No Alentejo com a cortiça à flor da pele

A cortiça é cozida num tanque sem qualquer aditivo durante uma hora, acima de 100 graus – um processo que não tem como propósito a lavagem ou o combate a pragas e fundos, explica Joaquim, mas sim a expansão das moléculas, que se traduz num aumento do volume da placa de cortiça. Após essa operação de cozedura, são aparados os excessos e a cortiça é avaliada. Entre 25 a 30 dias depois, é sujeita a uma segunda cozedura e fica, então, concluído o processo e a cortiça é canalizada para os sectores em que se enquadra.

As pranchas mais finas destinam-se à produção de discos (que ficam em contacto com o vinho) para rolhas técnicas (fabricadas com os aglomerados de cortiça que sobram da produção de rolhas naturais). As mais grossas e suaves dão origem às rolhas naturais. Estas placas são perfuradas e é extraído um cilindro – cada cilindro é uma rolha inteira que é, depois, submetida a análise.

A produção de rolhas exige a melhor cortiça – a amadia. Vários estudos indicam que os consumidores portugueses de vinho preferem garrafas com rolhas de cortiça ao invés de vedantes sintéticos ou cápsulas de alumínio. “As características da cortiça permitem a respiração do vinho, coisa que com outros materiais não é possível”, diz Eduardo Bon de Sousa, frisando que embora sele o vinho, a rolha de cortiça permite que haja “um intercâmbio de determinadas características”.

GUIA PRÁTICO

A experiência de descortiçamento é um dos ateliers promovidos pelos Compadres, uma plataforma que cria roteiros alentejanos à medida e tem já quatro rotas de turismo cultural definidas – Rota do Fresco, Rota do Montado, Rota Pica-Chouriços e Rota Tons de Mármore.

Este atelier funciona apenas nos meses quentes e sob reserva atempada, tem a duração de um dia e meio e os participantes serão acompanhados por um intérprete dos Compadres com formação específica na área (a visita está disponível em português, espanhol, francês e inglês).

O programa prevê ainda o alojamento no Hotel Convento de São Paulo, erguido em 1182 por eremitas e com uma das maiores colecções de azulejos do país. É turismo rural desde 2011, tem 40 quartos e todos respeitam a história do edifício – numa visita guiada pelos corredores do hotel, o director Eduardo Bon de Sousa, que também recebe os participantes no atelier e os acompanha, destaca que “tudo aquilo que teve de sofrer intervenções não tenta imitar o velho. Não queríamos perder o genuíno.”

No corredor principal dos quartos, transformados a partir de duas e três celas às quais foi acrescentada uma casa de banho em mármore, há um longo tapete vermelho e as paredes laterais estão cobertas de azulejos: de um lado a representação do Antigo Testamento, do outro o Novo Testamento. É neste corredor que existem também janelas com vista para toda a herdade – e para os trabalhadores ainda junto dos sobreiros.

COMO IR

Opercurso mais rápido até à Aldeia da Serra, em Serra de Ossa, no Redondo, faz-se pela A2. Siga por esta auto-estrada, seguindo a direcção Espanha/ Évora/Santarém. Já no IP7, saia na saída n.º 7 para Portalegre/ Estremoz (IP2). Depois de convergir com o IP2, continue em frente para a N4 e vire à direita em direcção à N381. Percorra cerca de 15km, entre curvas e contracurvas, e vire à esquerda. A 200 metros, à direita, há uma placa que indica o Hotel Convento de São Paulo – chegou. 

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