Fugas - Viagens

  • Filipe Farinha/Stills
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Bem-vindos não só ao Conrad mas também ao Algarve

Inquietação

Admitimos que o passeio que implicava a apanha da amêijoa — que acabou por ser lingueirão — nos estava a inquietar. Tínhamos visto no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera que a apanha de bivalves estava interdita. Mostrámos o nosso telemóvel ao responsável do barco, ele ligou para a capitania local. Confirma-se: tudo interdito. Mas havia uma justificação para a actividade: nós só íamos aprender como se apanha, não íamos comer.

No nosso caso, com os pés enfiados numas galochas e um vento desgraçado, só conseguimos foi matar um lingueirão. Mas aprendemos, só de ver quem sabe, como se faz: um buraco na areia, deita-se sal, espera-se que o bicharoco salte cá fora e, zás, temos de apanhá-lo, com alguma mestria e não da forma atabalhoada como nós — Fugas — fizemos. Não os levámos, não os comemos, voltámos a deixá-los na ria. A única excepção — e que, segundo a organização, estava autorizada nesse dia — foi um conjunto de travessas de ostras, acompanhadas de champanhe, que nos serviram e que comemos ali na hora.

Com os nossos melindres, nem de propósito, ficámos doentes à chegada a Lisboa. Atenção, nada em que se possa estabelecer causa-efeito. E o que vale é que a febre surgiu já longe do sol do Algarve e pudemos aproveitar tudo: as piscinas exteriores aquecidas, o jacuzzi e até uma massagem no spa.

Esta parte não foi menos cómica do que a nossa falta de jeito para apanhar lingueirões. Antes da massagem, tínhamos de preencher um questionário para que as técnicas pudessem perceber o nosso estado de saúde física e mental. A todas as perguntas do género “sente-se preocupada, sente-se exausta, precisa de mimo (esta fez-nos rir), tem o sono perturbado, e por aí fora, respondemos sempre que sim e responderíamos a muito mais se isso nos fizesse usufruir de uma massagem milagrosa. Em vez de motivo de preocupação, foi, claro, motivo de gargalhadas no meio do silêncio zen do spa, onde não faltam piscinas, jacuzzi, banho turco…Perguntei, divertida, à técnica: “Parece-lhe que estou a exagerar?” Respondeu-me: “Não, mas no seu caso, se calhar, precisava era de uma semana inteira no spa.”

Enfim, foram dias de sol e de luxo: os primeiros mergulhos ainda em Maio no mar e nas piscinas, mojitos, champanhe, comida de autor, pratos que parecem pinturas — por exemplo, no Gusto, do chef três estrelas Michelin Heinz Beck —, festas com malabaristas, graffiters a pintar ao vivo, música, dançarinos, aulas em que aprendemos tudo o que continuamos a não saber sobre vinho, a não ser que podem ser descritos de forma criativa e todos os adjectivos são bem-vindos.

O primeiro vídeo que nos mostraram assim que chegámos ao Conrad, sobre o conceito Never just stay, stay inspired, tinha como banda-sonora uma versão da música imortalizada por Nina Simone, Feeling Good. Felizmente foi assim que nos sentimos nos quatro dias em que lá estivemos, usufruímos do hotel e do programa paralelo que pretendia mostrar outras belezas e curiosidades algarvias. As experiências foram, de facto, diferentes. E até a massagem nos fez bem, embora a técnica tivesse razão: precisávamos de uma semana inteira de spa para nos resolver todas as mazelas do corpo e do espírito. Fica para a próxima oportunidade.

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