Fugas - Viagens

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Coasteering?: “Não penses, salta”

Estamos em frente a uma gruta de grandes dimensões na qual, depois dos olhos se habituarem à escuridão, se vislumbra um estranho altar. Helas! Isto do coasteering também tem uma componente cultural. À nossa frente está uma capela do século XVII, construída pelos pescadores em honra da sua padroeira. A julgar pela quantidade de velinhas e de ex votos ali presentes, a devoção mantêm-se ainda hoje dentro da gruta.

Próximo passo: o corrimão. Trata-se de uma escalada horizontal através de uma parede rochosa na qual Pedro Garrido e Marco Lince tiveram o cuidado de colocar uma corda que permite fazer a travessia em segurança. A alternativa talvez fosse mesmo ir pelo mar porque, em caso de queda, apesar da pouca altitude, a escarpa rochosa deixaria o corpinho bastante arranhado e maltratado.

Atenção à segurança. Os dois mosquetões vão presos à corda ao longo de todo o percurso, que termina com um novo salto sobre o oceano. Depois nada-se até à Lapa do Eremita, um local estranho onde se vêem os restos de uma habitação construída na gruta por um homem que ali viveu isolado. E depois há novamente rappel.

Na maré vazia o aventureiro é surpreendido na descida pelo aparecimento de uma gruta com águas de um azul-turquesa muito límpido nas quais apetece logo mergulhar. Ninguém resiste a explorar este local magnífico e há quem se sinta pirata das Caraíbas ou o conde de Montecristo e pergunte onde está a arca do tesouro.

Esta magia, porém, não acontece na maré alta porque a gruta fica submersa. Em contrapartida, os mais radicais aproveitam para dar saltos cada vez mais altos porque a profundidade da água o permite. Outros preferem apanhar sol estirados nas rochas ou explorar a nado as formações calcárias da encosta.

Em Agosto juntam-se barcos de recreio nas enseadas da Arrábida. Há quem passeie de canoa junto às rochas e até praticantes de paddle fazem a sua aparição deslizando sobre a água. Em terra há quem observe com estranheza este grupo colorido, equipado a rigor, que lá em baixo solta gargalhadas e gritos a nadar e a saltar por entre as escarpas.

O passeio termina junto à praia dos Pilotos da Barra. No trekking caminha-se, em média, três quilómetros numa hora. Na canoagem essa cifra é de 1Km/hora. E no coasteering progrediu-se à vertiginosa velocidade de 150 metros por hora. Ou seja, quatro horas para fazer 600 metros.

“Há dois tipos de pessoas que fazem isto: a malta viciada em actividades desportivas e radicais que quer experimentar uma coisa nova, e pessoas na casa dos 30 aos 40 anos que olham para trás e descobrem que nunca fizeram nada de muito aventureiro, que nunca saíram da sua zona de conforto e que resolvem inscrever-se.” É assim que Pedro Garrido traça o perfil dos seus clientes, acrescentando que uma grande parte vem arrastada por outros que já fizeram e que não resistem a partilhar a experiência e a recomendá-la.

A verdade é que, apesar do rótulo de actividade radical, o percurso é exequível por qualquer pessoa e não exige grandes atributos físicos. Até mesmo o saber nadar torna-se relativo. “Não precisam de saber nadar. Basta estarem à vontade dentro de água. Com o fato e o colete ninguém vai ao fundo”, diz o monitor.

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