Quando a alma não é pequena, a recompensa é imensa. Assim se avista a Taberna do Gabriel II, acordando fresca sobre a praia da Amoreira, uma das mais bonitas de Portugal, parte integrante do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina.
A praia vira a noroeste e é recortada por formações rochosas e dunares únicas que lhe conferem uma beleza natural rara. A norte, a imponente arriba, talhada de xisto e grauvaques, de cor acentuadamente cinzenta e preta, também conhecida como o índio guardião adormecido. O seu extenso areal dá lugar a um campo dunar que se estende ainda a um habitat sapal. Banhada pelo oceano Atlântico, serve ainda de estuário-lagunar à ribeira de Aljezur, que aqui desagua depois de tornear as colinas da serra de Monchique.
É uma praia para todos os gostos, com uma rica flora e fauna, onde se pode observar a lontra, a garça-cinzenta ou o bonito guarda-rios, plantas únicas e formações rochosas invulgares onde abundam também os mariscos frescos, como o mexilhão e os perceves. Para os mais radicais, os fundos rochosos dão origem a ondas clássicas e tubulares, muito procuradas pelos amantes do surf. Se veio para relaxar, perca-se nas dunas selvagens e acolhedoras, onde se escondem os amores de Verão, ou deixe-se derreter pelas águas calmas e quentes do riacho que passa sereno e com delicadeza, a sul. Depois do riacho uma paisagem verdejante adormece sobre o vale. E, no topo dessa colina, espreita e descansa Gabriel.
José Manuel Duarte Gabriel foi nascido e criado em Aljezur, construída sob o castelo e, outrora, um importante local de comércio que se servia do estuário do rio, o único acesso ao mar aberto nas proximidades da sua costa acidentada. Abriu o seu primeiro espaço perto da praia da Arrifana e, em 1981, fez nascer o paraíso na terra para quem é amante dos ares salgados do mar: esta delícia a que chamou Taberna do Gabriel II.
“Adoro cozinhar e, portanto, gosto de ver as pessoas felizes com a comida que lhes sirvo”, comenta Gabriel, enquanto degusta a cerveja gelada durante a sua pausa e observa com gosto a praia que se estende aos pés do seu restaurante. Trabalha sozinho e gosta que assim seja, apresenta-se com a sua jaleca branca imaculada e o chapéu sempre direito. Na cozinha a inspiração é sua, mas Maria Benta, a mulher, é o apoio constante e as suas mãos extra.
Entre as pipas de madeira e as traves que nos protegem da soleira de Agosto, Gabriel inicia a sua apresentação com uma refrescante salada de polvo à moda algarvia. A degustação é suave e tranquila nesta esplanada à beira-rio e mar. Por entre os tragos da sua cozinha de autor, fica a brisa leve da maresia que se deleita sobre os nossos olhos e repousa no mar.
Aqui ficam algumas sugestões das especialidades do chef: depois da salada de polvo, deguste os camarões à Gabriel, levemente picantes e condimentados, e termine com a feijoada de búzios, uma divinal mistura de sabores e aromas. Se lhe sobrar o apetite, não deixe de provar um bom peixe fresco escalado e torneado na grelha com perícia ou o famoso arroz de lingueirão.
