- Perguntei à minha mãe, uma vez que também são as suas raízes, onde gostaria de ir. Ela não hesitou, Senegal.
Mas o visto demorava mais tempo do que aquele que tinha disponível. Ficou por Marrocos, o Sara sempre o atraiu — e acabou por passar o Natal aí, no deserto, sob um manto de estrelas que mostra, ainda deslumbrado, no telemóvel —, e pela Tanzânia, queria ver os animais e ir a Zanzibar. Aproveitou para dar um salto ao Médio Oriente, à Jordânia, onde logo à entrada foi parado.
- Interrogaram-me: viaja sozinho?, sim, conhece alguém no país?, não. Então o grande problema era o que é que um mexicano, que viajava sozinho e tinha estado em Marrocos e na Tanzânia, ia fazer à Jordânia. “Where is the coke?”, insistiam. Eu só me ria. Revistaram tudo e encontraram um saco com areia do Sara.
Continua a rir-se quando recorda o episódio. Ri muito, sorri ainda mais. Ele, que antes de começar a viajar tanto não tinha muita esperança na humanidade, acredita agora que “a maioria das pessoas é boa”. “Em todos os locais em que estive, encontrei gente generosa, amável, nunca me senti em perigo por viajar só. Há que ser sensato, claro.” Por isso, continua, é que viajar é um instrumento valioso.
- Viajar abre a mente, torna gente tolerante, mas, sobretudo, disponível, para viver mais coisas. Estou convencido de que viajar pode fazer do mundo um lugar mais feliz sempre que nos ensinem ou aprendamos que viajar é conviver com as pessoas. Devia ser criado um comité mundial que pusesse toda a gente a viajar durante algum tempo, assim ganhariam ferramentas que podem ajudar na convivência.
Gente, comida, música
Manuel teve o seu “comité”, a Momondo. No entanto, não sabe se terá tempo para tudo o que tem planeado, por causa dos estudos. Crê que precisará de dois meses e meio para o que lhe falta. Ainda irá à Ásia (China, Japão, Camboja, Filipinas, Laos ou Mongólia), Oceânia (Austrália e Nova Zelândia) e América do Sul (Argentina e Ilha da Páscoa). Para trás, já ficou também Bérgamo.
E Bérgamo e Pereira eram os locais mais directamente ligados à história que conhece da sua família. De Bérgamo para o México foram dois irmãos Maqueo com o exército garibaldino, Giuliano e Stefano, este último, curiosamente, conhecido como “o viajante”. Não regressaram. No México lançaram raízes, Manuel pertence à sexta geração, e o seu sobrenome, tão exótico no contexto mexicano, sempre despertou a curiosidade de Manuel. E o engraçado é que em Itália não existe este sobrenome, segundo o registo civil. Terá sido adaptado ao espanhol. Se o sobrenome que herdou do pai não é mexicano, o da mãe tão-pouco.
- A minha mãe sabia que o meu bisavô se chamava José Manuel Pereira Murcia. Até podia ser espanhol, de pai ou mãe português. Morreu muito jovem, a minha mãe não sabe muito dele, apenas que tinha olhos verdes.
Pereira, o sobrenome, então, como motor desta vinda a Portugal. Lisboa, Sintra, Porto com este desvio até Pereira, aldeia como tantas outras no Minho e paragem em Barcelos para se sentar à mesa: adora comer.