- E o que faz uma viagem, para mim, é a gente, a comida e a música.
Pede polvo na brasa, prova bacalhau também na brasa, arroz de pato e cozido à portuguesa, acompanha com vinho. O arroz de pato é uma estreia, o bacalhau (a la vizcaína) é tradição natalícia no estado de Veracruz, onde fica Catemaco, o joelho de porco e os enchidos acha-os “muy ricos”. Adora tudo, e ainda sai do restaurante com um pequeno galo de Barcelos como recordação.
De Portugal conhecia algumas coisas. Muitas ligadas ao passado, adora história — “os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à Índia com Vasco da Gama, teve muito poder”. Outras mais actuais, como o vinho do Porto e o fado, que gostaria de ouvir ao vivo, a mãe recomendou-lhe — “só o ouvi em restaurantes e nos autocarros turísticos em Lisboa”. E tinha ideias vagas dos tempos de juventude.
- Sempre tive a impressão de Portugal como um país com muita classe, muito pitoresco, bonito e com pessoas correctas e elegantes.
Entre Barcelos e Pereira, dez minutos de carro, olha com atenção pela janela. Sabe que está a ver um Portugal que poucos turistas vêem, que está “a ver o que não se vê”.
- O que há aqui, não sei. Não sei o que me espera, não tenho ideia do que vou encontrar. Mas mais do que encontrar, quero sentir, deixar-me levar.
A tabuleta de Pereira surge na estrada, casas de um lado e doutro. Seguimos para a igreja, junta de freguesia, centro paroquial. Não há muita gente na rua, passam alguns carros. Mas Manuel caminha num mundo seu, espreita para além de muros, tira algumas fotografias. Diante de uma casa, imagina a da avó, no México. “Te lo juro”, assegura, olhando o portão onde se vê ao fundo uma casa aos retalhos, partes arruinadas, o quintal com árvores de fruto, couves. Entra no cemitério, vê alguns Pereira nas lápides, mas é a paisagem para além dos muros que mais o fascina.
- É tudo tão verde! As aldeias no México são totalmente diferentes. Aqui, temos as casitas, os vinhedos ao redor, a montanha, as pessoas que se cumprimenta.
Num café entabulamos conversa, mas ninguém tem memória tão antiga como a que Manuel procura. Fala-se do Castelo de Faria e Manuel encontra a sua próxima paragem. São ruínas, como avisaram, mas para Manuel é um parque infantil, onde dá rédea solta ao seu gosto por “trepar coisas, saltar, como um miúdo”.
- Qué lugar más chiflón! A paz, o silêncio, o vento, o cheiro. Que paz! Estou feliz, com vontade de brincar. Sinto-me ridículo, sentimental, ao dizer estas coisas, mas é verdade. É um sítio incrível, podia ficar horas. Pereira foi tranquilo. Mas o castelo é “wow!” [coloca as mãos na cabeça], uma sensação imensa de surpresa, de emoção.
Mais uma vez pede desculpa pelo sentimentalismo. Mas já percebemos que para Manuel viajar é sentimento. E Portugal? É o país mais romântico que já conheceu. E, como já lhe tinha acontecido em muitos países por onde andou, sente-se em casa.